segunda-feira, 19 de junho de 2017

Poema da Morte na Estrada

Na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.

A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.

Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo sem ceder nem um palmo de terra.

Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.

Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento.
Não lhes deu tempo para pensar em nada.

Agora,
na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos.

António Gedeão, in 'Linhas de Força'




13 comentários:

  1. Guerras há
    temo-las na memória
    todas elas sem glória

    Bj.

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  2. Já tinha dor no coração, Graça.
    Após a leitura do poema de António Gedeão, o meu coração ficou a sangrar.

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  3. Poema de uma realidade contundente...
    Abraço.

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  4. Poema muito contundente, amigos! Desculpem a violência, mas aquelas mortes na estrada deixaram-nos muito abalados...

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  5. Um poema que condiz com o horror que estamos a viver.

    Beijos Graça

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  6. Respostas
    1. Muito intenso. Como foi intensa a perda de vidas no passado fim de semana...

      Beijinho.

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