terça-feira, 27 de outubro de 2015

Uma nação só vive porque pensa

Acabei de ler «A Correspondência de Fradique Mendes» (1900). De vez em quando temos de regressar aos clássicos para nos encantarmos com os nossos bons pensadores, com quem de facto sabe utilizar a nossa bela língua com mestria e saber. É certamente o caso de Eça.

Veja-se como o singular romancista do fim do século XIX conclui aquela genial narrativa:

«Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est. A força e a riqueza não bastam para provar que uma nação vive de uma vida que mereça ser glorificada na história - como rijos músculos num corpo e ouro farto na bolsa não bastam para que um homem honre em si a humanidade. Um reino de África, com guerreiros incontáveis nas suas colinas e incontáveis diamantes nas suas colinas será sempre uma terra bravia e morta que, para lucro da civilização, os civilizados pisam e retalham tão desassombradamente como se sangra e se corta a rês bruta para nutrir o animal pensante. (...)

Só, na verdade, o pensamento e a sua criação suprema, a ciência, a literatura, as artes dão grandeza aos povos, atraem para eles universal reverência e carinho e, formando dentro deles o tesouro de verdades e de belezas que o mundo precisa, os tornam perante o mundo sacrossantos. (...)

Se uma nação, portanto, só tem superioridade porque tem pensamento, todo aquele que venha revelar, na nossa pátria, um novo homem de original pensar, concorre patrioticamente para lhe aumentar a grandeza que a tornará respeitada, a única beleza que a tornará amada. (...)

Michelet escrevia um dia, numa carta, aludindo a Antero de Quental: - «Se em Portugal restam quatro ou cinco homens como o autor das Odes Modernas, Portugal continua a ser um grande país vivo...»

(A Correspondência de Fradique Mendes - Eça de Queirós; Biblioteca Editores Independentes; Lisboa; 2009; pp 114-115)


Seria, no mínimo, recomendável se quem rege os destinos de todos nós de vez em quando lessem os nossos clássicos... 



16 comentários:

  1. Sabe o que é que eu acho?
    Pirandello também é um clássico!

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  2. Pois, Graça..."penso, logo existo". E se existo tenho de pensar como proceder de maneira a governar com saber!

    Mas, eles, não sabem nem sonham que a leitura dos grandes clássicos- e até de alguns grandes contemporâneos - lhes poderiam dar lições de grande utilidade, para que Portugal continuasse a ser um enorme País vivo.

    O Marcelo costumava, todos os Domingos, mostrar-nos catrefadas de livros, mas será que ele tinha tempo para os ler?

    Beijinhos!

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    1. Claro que não os lê. Nem conseguia! Nem precisava! Era apenas mais uma maneira de enganar as pessoas... o que foi conseguindo ao longo de anos... Espertinho, o Professor!

      Beijinhos

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  3. Quem manda anda bem longe da cultura, do bom-senso, da capacidade.
    É muito triste, mas é a realidade.
    Beijinhos

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    1. Vivemos uma enorme crise de políticos aqui na Europa, Pedro!

      Beijinhos

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  4. Eles não têm tempo para ler, nem os clássicos nem outros. Levam o tempo a estudar, onde podem roubar e como fazê-lo sem seres descobertos.
    Um abraço

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    1. Deve ser isso. Mas também lhes falta o «caldo de cultura» e a experiência de vida.

      Beijinhos

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  5. A começar pelo P.R. e o seu presidencial gosto "inconseguido" pela leitura nem de jornais, quanto mais de clássicos!

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    1. Esse é um verdadeiro iletrado! Entre outras coisas....

      Obrigada pela visita. Beijinho.

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  6. Nos nossos dias não há tempo. Aliás, a moda é comprar tudo feito e deixar que alguém pense e decida. A preguiça mental é estimulada constantemente por um frenezim infernal de tal forma que até as crianças são quase todas hiperactivas quando , na verdade, padecem é de falta de educação.
    A amiga Janita põe em dúvida os prodígios do professor Marcelo. É claro que o homem não lê aquela rima de livros; nem precisa para fazer a representação dominical que de momento se encontrar suspenso. Voltará à antena em novo formato, dizem, com a designação de "Novas conversas em família do senhor professor Marcelo".
    A moda dos avencados das tvs. andarem de porta em porta com livros debaixo do braço é um must da difusão cultural. Quem ensina as pessoas a ler e pensar? Marquetingues!!!
    Fez bem recordar Eça e Antero. Parabéns.

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    1. Que de ironia, amigo Agostinho! Que subscrevo, diga-se!

      Beijinho.

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  7. Amiga Graça, eles não lêem os clássicos porque infelizmente não querem ou não sabem ler !
    E depois os ignorantes somos nós!

    Um beijinho

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  8. Ler ?!....A maioria destes IDIOTAS nem leu os manuais do curso ( ? )...Entre batota e copos de vinho estudaram a melhor maneira de ficar bem na vida sem trabalho.O povo que se lixe.
    M.A.A.

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    1. Infelizmente assim é, cara M.A.A.! Uma vergonha. E uma pena.

      Beijinhos

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