domingo, 5 de outubro de 2014

Ai, a República!

(Museu Republicano de Pedrogão Grande)


Hoje é dia de dizer «Viva a República!»

«Viva a República!»

Pobre República porém, que tantos reveses tem sofrido nos seus pouco mais de cem anos de vigência! Senhora das suas verdades e das suas ideias, mas cheia de incertezas, entrou por este tristonho e pobre país de gentes néscias e bisonhas aos repelões sem saber se iria vingar e tornar-se forte como se tornara noutras latitudes.

E se a muito custo conseguiu – mercê da vontade de homens bons e de mulheres de força – implantar alguns das suas regras e doutrinas, não passaram mais de vinte anos para que fosse arrumada na prateleira da desgraça, escondida por detrás de bustos de cónegos rubicundos e de figuras embalsamadas para que depressa a esquecessem.

Assim esteve amarrada e de mordaça na boca durante quase meio século. Quase anquilosada foi retirada do canto das teias de aranha por um punhado de soldados sonhadores – de novo, os homens  bons – que lhe restituiu a cor, a luz e a vida.

Mas a vida dá tantos tombos e o que hoje é luz amanhã pode ser treva. E foi assim que esta espécie de governantes, que bem tenebrosos são, achou por bem retirar-lhe a pompa da celebração em dia de feriado – talvez um primeiro passo para remetê-la àquela velha prateleira onde passou metade da sua vida.

Agora é meio-celebrada, sem a pompa do povo na rua – porque povo preguiçoso tem de ser punido com chicote – por uns deputados de ideias atarracadas e olhos estrábicos com a linguagem rebuscada de quem não sabe falar a língua e por um presidente que se diz ser dela – da República – hirto, macambúzio e maldisposto que manda recados abstrusos a torto e a direito como quem dá tabefes aos colegas dos seus protegidos “filhinhos” se não lhes fazem as vontadinhas.


Ai, pobre República! E este povo que, com as forças que lhe restava, conseguiu correr com os Filipes, conseguiu destituir a monarquia e foi capaz de apear a ditadura, não consegue levantar-se em peso e depor estes deputados míopes, estes ministros ultra incapacitados, bem como aquele presidente sorumbático e carrancudo?


12 comentários:

  1. Que, com a queda do (des)Governo,
    se festeje uma nova

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  2. A História demora sempre tanto tempo a fazer-se...!

    Um beijo

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    1. Tem a ver com a mudança das mentalidades que tão difícil e demoradamente se faz!

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  3. Comemorar a República numa sala fechada, onde o ar estava irrespirável, por causa do mau hálito do Cavaco, não a prestigia. Veremos o que acontece quando voltar a ser feriado e as cerimónias voltarem a ser públicas.

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    1. Do que eu gostei da imagem do «mau hálito de Cavaco»!....

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  4. Os sinais acumulam-se de que não faltará muito tempo para que haja uma grande viragem em todo esse ambiente, Graça.
    Beijinhos e votos de boa semana

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  5. Mas alguma vez se pode festejar algo neste país com este inquilino em Belém que só sabe apontar o dedo aos outros como se não fosse ele o maior culpado do mau estado em que estamos?!

    Abraço

    Rosa dos Ventos

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  6. Coitado, ele não tem nada a ver com a política....

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  7. Amordaçou-se a República e a liberdade durante 48 anos e agora que se fez uma Revolução, volvidos outros 40, tudo parece estar amorfo e estagnado....

    Que dizer, Graça? Onde estão os homens que cantaram que este país era uma Nação valente e imortal?

    Já nem sei que diga!!

    Beijinhos

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  8. Aquelas "cerimónias" parecem uma missa de defuntos.
    Quem proclamará de novo a República e os seus valores da varanda, com o povo na praça?

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