A direcção do Museu Escolar dos
Marrazes (Leiria) levou hoje a cabo uma pequena (grande) homenagem ao escritor
Manuel Ferreira, nascido em 1917 aqui na Gândara dos Olivais, Leiria, quase
desconhecido de grande parte de nós.
Para isso convidou o Professor
Doutor Pires Laranjeira, da Faculdade de Letras de Coimbra, especialista e
professor responsável há vários anos pelas cadeiras de Literaturas Africanas de
Língua Portuguesa e de Culturas Africanas. Esteve cá – e isso é que foi o mais importante
– como aluno e amigo de longa data do homenageado. De notar aqui o entusiasmo
(e a gratidão) com que falou, durante cerca de duas horas da figura enorme (e
enormemente desconhecida porque esquecida) da cultura portuguesa e das culturas
africanas de língua portuguesa.
Ouvi falar em Manuel Ferreira quando,
nos anos 70, vim viver para Leiria, não por mérito do putativo meio cultural da
cidade, que era inexistente, mas tão-somente porque a família do meu marido,
leiriense nato, conhecia a família do escritor. Comprei, na saudosa Livraria
Sismeiro uns livrinhos infantis para as minhas filhas e para os meus alunos e
por aí me fiquei. Sabia vagamente que tinha andado pelas colónias e que esse
saber teria influenciado a escrita das suas obras – desconhecidas para mim. Não
me lembro de alguma vez a cidade ter feito o mínimo esforço para reconhecer e
dar a conhecer a vida e obra deste seu ilustre filho (como de outros, enfim!)
Hoje fiquei a conhecer o valor
intelectual e humano deste homem que, filho de famílias simples, pode apenas
concluir o Curso Comercial da Escola Técnica que não lhe possibilitava a entrada
na Faculdade de Letras como era seu desejo. Por isso seguiu a carreira militar
que lhe permitiu viver nas antigas colónias e aí, mercê da sua abertura humana
e intelectual, conseguiu estudar mais e mais, criar e dirigir serviços e
inteirar-se, de forma única e com grande profundidade, dos escritores e das
culturas africanas. E escreveu, escreveu, escreveu! Contos sobre a realidade da
sua terra e da sua experiência de vida, contos sobre as realidades africanas,
romances na linha neo-realista, histórias para crianças e, de longe, mais
importante, fundou e colaborou em revistas sobre a vida e a cultura das colónias
por onde foi andando e sobre essa temática escreveu e publicou variadíssimos
estudos, ensaios, antologias de poesia africana …
Acabou por se licenciar em
Ciências Sociais e Políticas, vindo a ser, já depois de Abril, professor da
Faculdade de Letras de Lisboa, onde criou, em finais de 70, a cadeira de
Literatura Africana de Língua Portuguesa.
E é toda uma obra de uma dimensão
como esta que continua desconhecida dos seus conterrâneos e esquecida da
colmeia cultural do país.
Tentem ir a uma livraria procurar
uma qualquer obra das muitas de Manuel Ferreira e vão ver…
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(Representante da Junta de Freguesia, Vereadora da Educação da CML,
o Prof. Pires Laranjeira e o Diretor do Museu Escolar) |
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(Familiares do escritor: em primeiro plano, o seu único filho vivo) |
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(Alguns amigos, conhecidos e conhecedores do escritor) |
Depois da palestra, visitámos uma pequena exposição alusiva de que passo algumas fotografias (não muito bem conseguidas, mas enfim...)
«Todos os dias morremos
e renascemos
E todos os dias os mitos
são enterrados
e reinventados
e não há morte
nem principio
a vida é
nos somos.»
(M. Ferreira, 1989)