segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Incomodou-me!

Incomodou-me! Pois como poderia não incomodar? Logo após o telejornal, um programa de propaganda à associação Missão Sorriso em que um chefe de família desempregado há mais de três anos falava desassombradamente da ausência de comida em casa, do frigorífico vazio, da única refeição que faziam que normalmente era arroz, ou massa, ou uma lata de salsichas, de como o filho não tinha leite para beber antes de sair de casa.

Uma dor de coração ouvir isto de cidadãos como eu. Um remorso intenso por os meus gatos comerem melhor que muitas pessoas, cidadãos como eu. Uma vergonha indizível por, aqui e agora, se estar a passar pelo mesmo a que assisti nos idos anos de 50 e 60.

No fim do programa, o elogio ao trabalho meritório – meritório, claro!  – da organização e dos voluntários. Mas porquê estes programas? Para nos mostrarem que fomos cigarras e esbanjámos, «vivemos acima das nossas possibilidades» - que náusea! – e que agora temos de  sofrer o castigo adequado? Ou tão simplesmente para mostrar às pessoas em necessidade e sofrimento que o melhor que têm a fazer é recorrerem à caridade? E onde fica o “governo” no meio de tudo isto? Qual é o seu papel? Empurrar as pessoas para a emigração, para a caridade, para o degredo?

Incomodou-me! Mesmo!

E, a fechar, em jeito de final feliz, passaram a belíssima canção Smile pelo Nat King Cole. Bem sei que quiseram fazer a analogia da Missão Sorriso com a canção que aconselha a sorrirmos mesmo quando o coração nos dói, mas situações como a que aquele senhor descreveu podem dar para tudo menos para sorrir!





15 comentários:

  1. Olá Graça,
    obrigada pelo comentário no meu cantinho e cá fico a aguardar o seu miminho com muito carinho.

    Ese tema de que fala aqui nese post é uma realidade triste... sabendo nós que existe mais do que suficiente para todos custa a acreditar que uns tenham mais que outros. E sendo essa a infeliz realidade eu ajudo no que posso... o meu marido até acha que eu exagero mas sinto-me mais preenchida se sei que coloco um sorriso na cara de alguém.

    uma beijoca doce xxx

    Paula

    ResponderEliminar
  2. PS esqueci-me de dizer que o Nat King Cole é um dos meus cantores preferidos, cresci a ouvi-lo graças ao meu pai e ainda o oiço nos dias de hoje, em especial os seus albuns em espanhol... LINDO!!!!!

    ResponderEliminar

  3. Por causa desses "filmes" das televisões é que já não as vejo.
    É perversa a forma como "trabalham" as cabecinhas desatentas.


    Um beijo

    ResponderEliminar
  4. É de lágrimas a correrem que leio o teu texto, é para mim doloroso demais, revejo alguém que amo muito.

    beijinho e uma flor

    ResponderEliminar
  5. Não vi e ainda bem, porque mais que incomodada era capaz de me emocionar - é tão triste que em pleno século XXI hajam necessidades dessas no nosso país... e em tantos outros, com contornos muito mais dramáticos!

    Mas lá está, o sistema capitalista é mesmo assim, enquanto uns se enchem, outros ficam na miséria. Pior é quando essa realidade nos entra casa a dentro, mesmo que só via TV: parece que nos sentimos culpados de podermos fazer várias refeições ao dia. Já os nossos governantes aposto que dormem sossegados nas suas almofadas... :P

    Da música gosto muito, mas realmente não condiz com a mensagem.

    Beijocas!

    ResponderEliminar
  6. Podia ter guardado o "smile" para outro texto...
    É que este trata do grotesco!

    ResponderEliminar
  7. Perceberam as conclusões da 10ª avaliação da Troica? Quem mente mais? O governo, a sr.ª Lagarde, o sr. Monti ou os ...?
    É minha convicção de que os regentes da Lusitânia, entidade que mora em arranha-céus anglo-saxões, cujos pés flutuam nos escritórios-templo, atapetados por celestiais e alvas nuvens, acham que ainda não há pobres suficientes para fomento de caridosas almas. E os saldos para os salvíficos investidores ainda vão a meio.
    Venham mais umas esmolinhas embrulhadas em resgate ou outro papel qualquer, qu'a gente agradece. Se não fosse isso quem nos valeria. O Salazarento dizia: livro-vos da guerra mas não da fome.
    Soda!!!

    ResponderEliminar
  8. Ainda bem que não vi esse programa.Estou tão refilona e indignada , que após ou durante alguns programas , telefono para as televisões , peço para ser gravada e deixo o meu depoimento .
    Uma grande amiga , chegou de um país nórdico triplo A pelas agências de rating , onde passou um mês e vem indignada , pois achou-os preguiçosos e depois nós é que somos ? Esta corja de governantes , quer fazer acreditar que somos , o que não somos.Haja paciência . M.A.A.

    ResponderEliminar
  9. Minha amiga, além do incómodo, a mim enfurecem-me esse tipo de reportagens.

    Mesmo o voluntariado serve para certas criaturas se promoverem : estão borrifando para o sofrimento das pessoas, mas é de bom tom e , actualmente, até favorece o currículo.

    Ah, claro que se enviares dinheiro(não tem cheiro, nem idade, nem cor e nem importa a origem) to aceitam ,a ti é que não...nem para um canil!

    O pior é que estes escroques vão endoutrinando as pessoas , que até acham que se não há dinheiro , então é como nas nossas casas...

    Um abraço

    ResponderEliminar
  10. Ontem, a seguir ao jantar, vi um programa sobre a nova escravatura que também me incomodou. Não só pelo conteúdo, mas por terem centrado a análise na escravatura sexual e só pela rama a escravatura laboral, que vai crescendo de forma assustadora.

    ResponderEliminar
  11. Só vi parte...
    Estar sozinha não ajuda a ver programas que ainda me entristecem mais!

    Abraço

    ResponderEliminar
  12. Tenho muita pena por ter-vos, de igual modo, incomodado com esta triste temática.

    Quanto ao Smile do meu querido Nat King Cole, entendo que nada tenha a ver com o que escrevi, mas a intenção também era essa: mostrar o contra-senso que foi o dito programa.

    Querida Paula, obrigada por ter aui vindo e ainda bem que também gosta de ouvir Nat King Cole. O seu pai é uma pessoa de bom gosto. Só pode...

    Beijinho e bom Natal!

    ResponderEliminar
  13. Não vi o programa, mas tenho sempre presente essa situação triste e tremendamente difícil porque está passando uma larga faixa da nossa sociedade.
    Faço compras todas as semanas e sei o que comprava com 100€ e o que compro agora. É então, que me horrorizo pensando nos que estão na miséria com um só salário mínimo ou vivendo da macérrima
    caridade do Estado.
    Deveriam morrer de vergonha, os que afirmam que Portugal está em vias de sucesso, pois o pior ainda está para vir, a partir de Janeiro.
    Peço desculpa por me ter alongado, mas tenho de desabafar a minha indignação.

    Amigos, que esta meditação sirva para passarmos um Natal mais solidário e santo.

    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  14. As visitas aos bancos alimentares estão a aumentar um pouco por todo o lado. Lamentavelmente.

    ResponderEliminar