segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Elas não são deusas!

No Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, escolhi este poema para, de alguma forma, reverenciar todas as mulheres que foram e, por infortúnio, continuam a ser humilhadas e mal tratadas.


Posso pedir, em vão, a luz de mil estrelas:
apenas obtenho este desenho pardo
que a lâmpada de vinte e cinco velas
estende no meu quarto.

Posso pedir, em vão, a melodia, a cor
e uma satisfação imediata e firme:
(a lúbrica face do despertador
é quem me prende e oprime).

E peço, em vão, uma palavra exata,
uma fórmula sonora que resuma
este desespero de não esperar nada,
esta esperança real em coisa alguma.

E nada consigo, por muito que peça!
E tamanha ambição de nada vale!
Que eu fui deusa e tive uma amnésia,
esqueci quem era e acordei mortal.

(Fernanda Botelho)



14 comentários:


  1. Dói tamanha impotência...
    A impotência de querer ser mais forte que o agressor...
    Mas não ter força!
    De querer elevar a voz mais alto a pedir socorro...
    E haver uma mão a silenciar a garganta!
    De querer poupar os filhos e resguardá-los da bestialidade dos tratos...
    E acabar por sofrer duas vezes a dor e a humilhação.

    Bem haja quem tem coragem de dizer NÃO... felizes as que conseguiram escapar com vida a tantos maus tratos... e paz à alma das que sucumbiram às mãos daqueles que, eles sim, não merecem viver.


    Junto-me a ti nesta homenagem...

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  2. As 33 que já morreram às mãos de carrascos/maridos/amantes merecem esta tua homenagem e todo o nosso respeito...além das que sofrem em silêncio!
    É um horror sem fim à vista! :(

    Abraço

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  3. Continuamos deusas, só que algumas de nós (demasiadas) não sabem...

    beijinhos

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  4. Mande dizer, por mim, ao poeta
    que no próximo verso não peça
    Exija
    E acordará viva

    (é um belo poema de submissão)

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  5. Deixe-me subscrever o comentário do Rogério, Graça.

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  6. Os números de mulheres assassinadas pelos companheiros ou ex-companheiros tem vindo a diminuir, felizmente, mas mesmo assim uma só já era demais! A mentalidade do "dono e senhor" da mulher vai ter de acabar...

    Beijocas!

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  7. O pior é que o problema aparece agora já nos primeiros namoros.



    Um fio a cortar

    - Onde está a deusa
    mulher-beleza
    anulada, sem condição?
    - sob o peso absoluto do pasmo,
    o medo a sangrar
    a coragem, um coração.

    - E não há um golpe a cortar
    o fio da servidão?!

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  8. Vou repetir este comentário à exaustão - E aqui continua a tese que as situações de violência doméstica não devem ser crime público.
    Deve ser tudo resolvido na harmonia do lar.
    Ao murro e pontapé, claro :(

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  9. Amiga Graça.
    Este é um assunto que mexe muito comigo, talvez porque tive uma grande amiga que era vítima de violência doméstica e tal como no poema, esqueceu quem era.
    Quando alguém consegue tirar a auto-estima a outro alguém, tira-lhe mais do que a vida. E merece pena máxima por isso.

    beijinho comovido

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  10. Vou roubar as duas últimas frases da Fê:

    «Quando alguém consegue tirar a auto-estima a outro alguém, tira-lhe mais do que a vida. E merece pena máxima por isso.»

    Beijinho



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  11. Os números da violência doméstica assustam. Contra mulheres, crianças, idosos... crimes abjetos.

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