domingo, 24 de novembro de 2013

Despondency

("Despondency" desenho de Chris Riley)

Despondency


Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade...
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram...

Deixá-la ir, a vela, que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul levantaram...

Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
À morte queda, à morte silenciosa...

Deixá-la ir, a nota desprendida
D'um canto extremo... e a última esperança...
E a vida... e o amor... Deixá-la ir, a vida! 


(Antero de Quental, in "Sonetos")

10 comentários:

  1. Amiga Graça.
    Escolheu o poema perfeito muito adequado ao pessimismo, tristeza e abandono em que somos forçados a viver neste país.

    beijinho e boa semana

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  2. E ele não a deixou ir, obrigou-se a partir!
    Soneto cheio de melancolia...tão vulgar na poesia de Antero!

    Abraço

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  3. Apesar da melancolia, soube-me bem encontrar Antero...

    Beijinho

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  4. Não sei porque , hoje estou tão desanimada que este poema me fez chorar...
    Beijinho

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  5. Quental, um dos nossos grandes, que nos faz cismar.
    Mas a vida é mesmo assim: a um aperto de coração segue-se, um prometedor afago de Sol. Sempre! É só confiar no natural desfiar dos dias.

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  6. Não, poeta
    Hoje dão deixo partir ninguém
    Nem a ave
    Nem a nave
    Nem a alma
    Nem a nota desprendida
    E muito menos... a vida

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  7. Não gosto muito de deixar ir.
    Gosto mais de agarrar o touro pelos ditos cujos.
    Nem que leve umas marradas.
    Boa semana!

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  8. ... entretanto hoje é homenageado Eanes
    cúmplice do descalabro

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  9. Lindo, Rogerito, obrigada!

    Toda a razão, Pedro! Mas nem todos conseguem essa força quando é precisa...

    Pois é, Puma! Também não é dos meus homenageáveis - se bem que por motivos diferentes. Mas é bom que a diferença exista, não é verdade?!

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