domingo, 27 de maio de 2012

As Luzes de Leonor


Abalancei-me finalmente a “atacar” o grande romance de Maria Teresa Horta. Grande porque tem 1054 páginas e seis centímetros de lombada. Grande porque trata da vida de uma grande mulher da cultura portuguesa dos séculos XVIII/XIX. Grande porque é escrito por uma grande, enorme escritora/poeta da nossa atualidade.

E porque as coisas acontecem, para nosso espanto, como se fossem coincidências, na passada semana a Livraria Arquivo, nas suas conversas de fim de tarde com os nossos autores, trouxe a poeta ao seu espaço para falar desta sua obra.



(A autora na Arquivo)

Foi um encantamento ouvi-la – como é sempre um encantamento ouvir os autores a falarem da criação poética, literária – falar da forma como foi escrevendo e reescrevendo sempre, ao longo dos anos, a história trágica, mas extraordinariamente corajosa de Leonor de Almeida, sua avó em 5º grau. É porque não se tratou de ouvir uma romancista a falar do seu romance, foi sim, ouvir uma poetisa – pessoa dotada de uma imensa sensibilidade e de um imenso saber acumulado – a contar como contou a história, romanceada mas com muito de factual, de uma antepassada que ela se habituou a ver em quadros no palacete de família e de quem sempre ouviu falar e com a qual, aos poucos, se foi como que identificando.

Ainda li apenas umas duzentas páginas, mas é realmente um assombro de leitura. Um discurso narrativo impregnado de poesia que nos entra pelos sentidos sem que dela nos demos conta. Uma história que nos é contada não por um, mas por vários narradores, muitos deles personagens. Uma história salpicada de cartas que realmente existiram, de factos que realmente aconteceram, de poemas que a personagem principal e outras personagens reais realmente escreveram. A obra avança, como diz Vanda Anastácio, que ajudou Maria Teresa Horta na sua minuciosa investigação e que lhe escreve a introdução, «nesse território estranhamente mágico em que a ficção e a história mutuamente se seduzem sem nunca se renderem uma à outra.»



Bem quisemos – e, de algum modo, conseguimos – que Maria Teresa Horta falasse das Novas Cartas Portuguesas que escreveu, em parceria com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, em 1972 e que Natália Correia publicou. Relembrou, naquela forma simples mas completa e exata de comunicar, as perseguições, as estaladas, as humilhações de que foram alvo nesse tempo para esquecer, mas que temos a obrigação de lembrar. Mas as duas horas de conversa esgotaram-se num instante. Eu estaria ali a ouvi-la até de manhã…

13 comentários:

  1. Quando vou a Portugal gosto de comprar um ou dois livros de autores portugueses. Tenho todos do Miguel Sousa Tavares! Haverá este ano algum novo dele?
    Vou tomar nota deste livro... Mas com tantas páginas deve pesar uma tonelada e este ano quero viajar muito “light!!
    Também gosto de ir a lançamentos de livros.

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  2. Ainda não comprei, mas já o tive na mão. Imperdoável da minha parte!

    Beijo

    Laura

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  3. Teve mais sorte que eu... Na sexta feira passada, estive numa tertúlia animada pela editora do meu livro (Espaço e Memória). O convidado, João Paulo Oliveira e Costa,foi apresentado com um curriculum esmagador: doutor em História e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É Director do Centro de História de Além-Mar [ CHAM ] e membro da Direcção do Centro de Estudos de Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa. Foi um dos coordenadores científicos das Biografias dos Reis de Portugal e autor de «D. Manuel I», publicado nesta colecção. Iniciou-se na escrita de ficção com o romance O Império dos Pardais (2008), a que se seguiu O Fio do Tempo (2011) e o Cavaleiro de Olivença (2012).

    Encheu a sala de ágil oratória, só três estiradas, para se perceber o fio de raciocínio:

    - Que ninguém pense que o amor à história se passa a ter a partir dos manuais escolares. Isso nasce connosco!
    - Não acredito na qualidade do romance histórico escrito por qualquer outro escritor que não seja um académico e um investigador da área!
    - Saramago? Li a primeira página e não consegui ler mais...

    Ficou deste serão quase um desafio para o contrariar... escrever um romance histórico! :))

    (Claro que este senhor nem sequer referiu o romance da Mª Teresa Horta. Mas isso nada importa...)

    Boas leituras!

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  4. Costumo receber por mail as informações da Arquivo!
    Esta escapou-me...
    Talvez fizesse um esforço e fosse ouvir esta grande mulher .
    "As Novas Cartas Portuguesas" li-as, quanto a esta obra pelo que dizes vale a pena!

    Abraço

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  5. As "cartinhas" li e gostei muito mas não sei se terei coragem este desafio.

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  6. Bem sei que os livros não se medem às páginas, mas com tantas páginas, para quem anda sempre com um na mala/mochila para qualquer "eventualidade" (que é como quem diz, filas de espera), um com esse esse volume torna-se uma séria ameaça para um coluna que já não está como nova... :)

    Quanto à Maria Teresa Horta, e não sendo eu muito ligada à poesia, nunca li nada dela. Mas sempre que a ouvi falar, achei-a uma grande comunicadora... :D

    Beijocas!

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  7. Não penso algum dia lê-lo, embora goste imenso da Maria Teresa Horta.
    A pilha de livros em lista de espera continua a aumentar, não sei se algum dia a vou conseguir reduzir a zero!

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  8. Vou acreditar na tua palavra, pois confesso que nunca tinha ouvido falar da senhora...

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  9. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Adorei sua narrativa e dar- a conhecer essa grande escritora e poetsia, é pena que aqui em Macau só haver uma única livraria portuguesa, pouco recheada de obras que vale a pena ler, mas irei verificar se a encontro para me poder deliciar na leitura que deverá ser interessantíssima.
    Abraço amigo

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  10. Um livro que depois do que li aqui, vou ler de certeza.
    Já nos cruzámos nos blogues de alguns amigos e hoje tive o prazer de a "conhecer".

    beijinhos

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  11. Graça querida
    Lamento a partida da tua amiga Amélia, só soube hoje.

    Este é um dos livros que vou querer ter.
    Boa semana amiga

    Beijinho e uma flor

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  12. Querida Graça, venho agradecer a tua adesão ao desafio! Nem imaginas como fiquei contente, por contar com a tua presença! :)
    É verdade que o tempo tem sido pouco para te visitar nestes últimos tempos, mas tu compreendes...
    Beijinhos e obrigada. :)

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  13. Esse livro não chega nunca ao Brasil? Gostaria muito de o ler e tê-lo aqui comigo.

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