domingo, 22 de abril de 2012

Em nome da Terra

Muito, mas muito antes de inventarem os Dias de e, portanto, o Dia da Terra, já havia muito quem se preocupasse com estas questões ecológicas, com os problemas da Terra e com a forma completamente irresponsável com que o Homem lida com o seu Planeta, a sua Terra, a sua Casa. E também já havia professores de Português que, aí por 75, 76, liam destes textos com os seus alunos de doze anos.

Arborizem!

“Querem retemperar a nação e a raça? Arborizem, arborizem, arborizem a erra, a escarpa marinha, a duna, o pedregulhal. Nunca mas secarão as fontes, os rios volverão à madre, os ares serão puros e tónicos, a vida risonha. Nesses oásis, Gerez, Bussaco, Mafra, Leiria, está u b0m exemplo. Nem só campina tem direito, como diremos? à munificência da natureza; têm-na também as cidades. São os parques os seus pulmões e a sua festa. E que adoráveis não são já alguns, da capital, o Jardim da Estrela, onde cresce por entre tílias e álamos um mundo pequenino, o Campo Grande, o Parque Eduardo VII, a Tapada da Ajuda!

(…) No Jardim das Plantas, de Paris, existe um cedro, que hoje mede 4 metros de circunferência em sua base, trazido para ali por um sábio no seu chapéu. Reza a história que para dar água à plantazinha diminuta se fartou ele de ter sede. Era um bom e talentoso homem. Um letreiro ligado ao tronco perpetua o seu nome. Na Praça do Príncipe Real também há um lindo e singular cedro, que abriga os namorados debaixo da rama especiosa. Não é imponente como o de Paris; mas é um cedro filantropo, afável a mais não poder ser, e por aqui merece a nossa admiração.”  

(Aquilino Ribeiro)


Jardim da Estrela

 
Mas é árvore…

«Poucos portugueses há que gostem de árvores. Tiram-lhes a vista… Querem o campo visual desafrontado como se temessem inimigo oculto.

Para que serve uma árvore? Uma árvore não tem utilidade nenhuma – a não ser que dê pêras, maçãs ou cerejas.

Fazem raciocínios deste jaez as pessoas. Pedem aos amigos, aos vizinhos, às autoridades, que cortem aquelas árvores, que não estão ali a fazer nada…

De geração em geração, vai-se agravando esta sanha arboricida. Árvores isoladas, que cresceram e se desenvolveram livremente, dando nome e beleza a certos sítios, uma hoje, outra amanhã, foram sacrificadas a esse furor, porque eram árvores. Aquele pinheiro manso, aquele castanheiro, aquele cedro – já não existem. Foram degolados sem que ninguém os defendesse nem chorasse. O mais que se diz, em seu louvor, é que deram bons carros de lenha.

Esta árvore deve ir abaixo porque está velha. Esta árvore deve ir abaixo porque estorva. Esta árvore deve ir abaixo porque não deixa ver quem vai na rua. Verdade é que nem a árvore está velha, nem impede que se vejam as pessoas que se querem ver. Mas, é árvore… Deve morrer porque teve a pouca sorte de ser árvore.

O homem antigo, se não amava as árvores, respeitava-as por instinto. Foi a maneira de nos legar algumas. O homem moderno põe em jogo uma espécie de inteligência para as destruir. Não quer que tenham fisiologia. Não admite que levantem passeios, nem arremessem folhas aos telhados. Quer que sejam inertes como candeeiros. O homem actual deixará à posteridade em vez de árvores, pérgulas de cimento. Confunde urbanismo com desarborização. O urbanismo que pede verdura, é entre nós sinónimo de secura. Ninguém urbaniza sem pôr raízes ao sol.

Em Portugal, só com poetas se pode contar para defender as árvores condenadas. Quem não é poeta ou não tenha dentro da alma o seu quê de poesia, o que deseja é ver terra nua. Faria de Sintra, do Buçaco e do Bom Jesus três carecas de respeito.

Há quem diga que é preciso destruir árvores para dar lugar a automóveis. Mas se o motor de explosão, com as suas exalações, destrói a saúde pública e a árvore é o seu contraveneno, é indispensável conciliar a existência do motor com a existência da árvore. É preciso que se acomodem ambas no espaço que lhes couber, sob pena de morrermos envenenados.

Cada árvore é uma bica de oxigénio indispensável à vida. É, de mais a mais, filtro de gases tóxicos provenientes de combustões devidas ao nosso comodismo. Tais gases vão fazendo de cada povoado uma câmara de condenados à morte. Os moradores de certos países parecem moribundos.

Só a árvore os poderá salvar.

Conviria convencer de tal verdade o nosso homem comum, que não olha as belezas da paisagem, mas é capaz de defender a beleza da sua pele. Só assim se poderão salvar as árvores que ainda existem em cidades e vilas portuguesas.»

(João Araújo Correia, in Passos Perdidos, 1967)


(Jardins do Alvor Beach Club Hotel, no Algarve)

Arborizem!

12 comentários:

  1. Pois havia!
    Mas os Dias disto daquilo e daqueloutro, salvo algumas excepções, também servem para alertar aqueles que nunca leram nem lerão estes e outros autores de vanguarda, já na sua época!

    Abraço

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  2. Que árvore espetacular! : ) Faltou dizeres o local onde encontraste tão bela árvore.

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  3. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Vivo em Macau e aqui nesta bela cidade os governantes mantem a cidade com muita vegetação, as ilhas da Taipa e Coloane estão desde sempre bem arborizadas, e não se abatem as árvores.
    Na Tailândia muitas das árvores que os monjes consideram sagradas, vamos lá a saber porquê, eles colocam panos coloridos em volta do tronco, como tal jamais poderão ser abatidas.
    Os orientais adoram as ávores, pena é que na Indonésia se abatam de forma indescriminada, afectando a flora e o meu ambiente, bem como a fauna.
    De terras da China segue um abraço amigo

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  4. Arborizemos em nome da terra e de todos nós.
    O ser humano é que destrói!

    Beijinho e uma flor

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  5. Mesmo que uma chamada de atenção, discordo em absoluto com o segundo texto: para além dos tansos, poucos portugueses não amam as suas árvores! Basta ver o sururu que o corte de uma delas provoca nestes caminhos de Portugal. E às vezes é necessário, porque estão "doentes" e propagam as suas "pragas" às restantes...

    Talvez fizesse sentido na altura em que foi escrito, mas nem aí me lembro dessa sanha arboricida... ;)

    Que vivam as árvores (e todos nós para as vermos crescer)! :)

    Beijocas!

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  6. Tanto que eu batalhei e continuo a batalhar pelas árvores de Leiria!

    http://arvoresleiria.blogspot.pt/

    Resta-me a consolação de nalguns casos ter tido êxito a minha insistência:
    - placas identificadoras das árvores
    - não abate dos choupos do Largo Cónego Maia

    etc

    Pela Mãe Terra, arborizemos, pois.
    Que cada um faça a sua parte e já estaremos muito bem.

    Bj

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  7. Foram-se os sobreiros e a Justiça...
    Ai Portucale, Portucale, com tanto eucalipto a sugar-te... viraste terra de sequeiro.
    :(

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  8. Dizem que o homem é homem depois de ser pai e de escrever um livro.
    Eu digo que um homem é realmente homem quando planta muitas árvores. Podem ser pinheiros, sobreiros carvalhos ou oliveiras ou outras variedades.

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  9. Amiga,

    Conta comigo que, desde que me reformei e vim viver para a Aldeia, tenho contribuído para a arborização do Planeta.

    PS - Fiquei preocupada com o estado de saúde da tua neta. Por favor vai dando noticias que uma Avó fica sempre em desassossego com os netos nem sejam de outros Avós.

    Beijos solidários e desejos de rápidas melhoras

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  10. Catarina, já legendei a árvore: encontrei-a num hotel do Alvor, no Algarve. Esplendorosa!

    Amigo Cambeta, devem ser lindas essas ilhas de Taipa e Coloane, nomes que aprendi de cor na 4ª classe ... Muito obrigada pelos seus relatos e descrições.

    M.A.A. ainda há muito por aí quem abata árvores a torto e a direito! Fale com amigo António Nunes ou com o meu amigo Pedro Macieira do blogue Rio das Maçãs e vai ver!

    Não é assim, amigo Rui? Muito sobreiro de Portucale que foi à vida mas foi tudo por bem...

    Querida Tite, a minha Elisinha lá continua internada porque o raço da febre não desaparece o que significa que a infeção continua a tomar conta dela. Um grande transtorno para ela e para os pobres pais que estão num sufoco! Já para não falar na avó que é uma verdadeira "galinha"!
    Muito obrigada pelo teu cuidado e a todos pelas palavras a favor das nossas árvores.

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  11. Amiga Graça , não sei se isto vem para o caso , mas , a lenha de carrasco que nós compramos a um fonecedor espanhol aqui perto de Alcañices, lenha que é muito mais barata e de melhor qualidade do que a que é vendida por negociantes nacionais , é comprada pelo espanhol no Alentejo , zona do Alqueva , vem em troncos para aqui e só depois é preparada....M.A.A.

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