segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fundamentalismos




Não resisto a um bom texto irónico. E é por isso que trago hoje aqui a excelente crónica de Manuel António Pina ditada na Notícias Magazine de ontem.  Que fique bem claro que não venho aqui defender que se fume – nunca fumei um cigarro na minha vida. Trata-se tão-somente de um excelente texto que põe a ridículo os fundamentalismos pacóvios que nos vão assolando (ou assombrando) e que a comunicação social faz questão de inculcar nas cabeças dos mais distraídos.

Os malefícios do tabaco (ParteII)

Vai por aí uma hipócrita discussão acerca da obrigatoriedade, ou não, de os titulares de cargos públicos revelarem a sua filiação em obediências diferentes da do interesse colectivo, em concreto, na Maçonaria (e porque não o Opus Dei e outros lobbies de que não se fala, não menos sigilosos e duvidosos do que a Maçonaria?; o cardeal-patriarca falou da Maçonaria mas esqueceu-se da «Obra»; em contrapartida, honra lhe seja feita, lembrou-se do Sporting…).

O Dr. Francisco George, o sempiterno director-geral da Saúde, tinha aqui uma ocasião privilegiada para apanhar boleia e colocar na agenda mediática também a obrigatoriedade de os titulares de cargos públicos incluírem nas suas declarações de interesses e obediências se são fumadores, pois que fumar – não seria difícil arranjar um qualquer perito que fosse à TV dizê-lo – é uma obediência ainda mais compulsiva do que andar de avental e penduricalhos coloridos.

Lá haveremos de chegar, aos titulares de cargos públicos e, depois, à generalidade dos cidadãos, de modo a criar aquilo que os ideólogos do fascismos higienista chama de «hostilidade social contra os fumadores». E já faltou menos para os pôr, juntamente com os maçons, de estrela amarela ao peito, agora que já os confinaram a ghettos recônditos de cafés, bares, restaurantes, pubs, discotecas, salas de jogos, escolas, empresas, teatros, cinemas, centros comerciais e sei lá que mais «ambientes públicos» e privados (será permitido fumar nas lojas maçónicas?).

A Parte II da Longa Marcha proibicionista do Dr. Francisco George é agora expurgar os fumadores também das imediações desses «ambientes públicos» (isto depois de, previamente, os expulsarem dos actuais ghettos). E, a seguir, parece que igualmente a proibição de fumar dentro dos automóveis. Não me admiraria se a coisa acabasse com o Dr. Francisco George a mandar-me a ASAE a casa para verificar se fumo quando vou ao quarto de banho. E se ponho sal a mais na comida, se consumo álcool, doces, gorduras, se tomo banho todos os dias, se faço exercício, se controlo regularmente o PSA…

A barragem de artilharia sobre a opinião pública já começou: «Basta estar uma pessoa do lado de fora, junto à porta de um bar, para aumentar a exposição ao fumo de quem está no interior», garante a coordenadora de um «estudo» pago pela Direcção-Geral da Saúde a uma «equipa de investigadores». A «equipa de investigadores» não dá pormenores sobre a orientação do vento nem as condições de pressão e temperatura à porta do tal bar, mas andou a snifar locais com zonas para fumadores verificando que «em mais de trinta por cento cheirava a tabaco em todo o estabelecimento» (a fumo de escapes decerto não cheirava nos estabelecimentos, nem «do lado de fora, junto à porta», se não os narizes dos investigadores teriam dado por isso; de modo que automóveis, motos e camiões poderão continuar a circular nas imediações desses «ambientes públicos»).

Posto tudo isto, concordo (eu, que sou fumador) que não se deve sujeitar quem não fuma ao fumo alheio, pelo mesmo elementar motivo que também eu tenho o direito de exigir ao Dr. Francisco George que me proteja (coisa para que está patentemente virado) da poluição dos escapes e do cheiro de água-de-colónia rasca em elevadores  demais «ambiente públicos».

Dizem os cruzados antitabagistas que um em cada quatro portugueses que morrem prematuramente (maçons incluídos, acho eu) morre «em parte devido ao tabaco». É capaz de ser «em parte» verdade. E os três portugueses restantes, que pelos vistos não fumam e também prematuramente? Poder-se-á concluir que não fumar é três vezes mais perigoso do que fumar?

Manuel António Pina


12 comentários:

  1. Totalmente de acordo, um excelente trabalho jornalístico. Até me atrevo a dizer que de investigação.
    Não fumo, e as poucas vezes que quis fardar daquilo que não sou saiu-me mal.
    Na saída do eléctrico em Benfica, mesmo onde dava a volta, saltei em andamento, perdi o maço de tabaco e quase caio.
    Na Base de São Jacinto, o comandante insistia em que cheirava a tabaco, estávamos a bordo dum JU52, e nem tinha fumado... quis levar-me aos calabouços!
    Um grande abraço

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  2. Os meios de comunicação fazem grandes alaridos de coisas sem qualquer importância. Coisas até banais.
    Fumei por quase trinta anos e sabia-me bem. Prejudiquei outras pessoas pelo meu prazer. Peço-lhes desculpa.
    Hoje não fumo. Parei em 2002 e estou super feliz com essa força de vontade que me acompanhou.
    Respeito os fumadores e não mando ninguém apagar os cigarros.
    Matem-se como quiserem.
    Não posso remediar o mal que me fiz fumando, mas estou feliz por ter terminado. Aconselho aos fumadores que apostem neles e não nos cigarros. Mais saúde com menos tabaco.
    É tempo de comercializarem os carros eléctricos de modo que a poluição atmosférica melhor e Portugal se encha de boas políticas e de nobre povo sem tanta tristeza e desgosto pela cambada que governa o país com crises e mais crises, austeridade e aumentos de impostos sem subida de rendimentos...

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  3. Tenho alguma dificuldade em opinar sobre este tema, daí não ter colocado a crónica de Manuel António Pina no meu mural do FB!
    Não sou fumadora activa!

    Abraço

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  4. Pina é um excelnete cronista que leio há muito tempo e fizeste muito bem em colocar este seu texto aqui.

    Bem hajas!

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  5. Detesto fundamentalistas...esse Dr. Francisco George consegue enervar-me. Eu fumei durante 46 anos e muito , que bem me sabia e graças a Deus sendo mais velha que o cavalheiro , pareço filha dele...Anda a frequentar maus ambientes para ter tão mau aspecto.Ou será mau feitio ?!
    M.A.A.

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  6. Pelos vistos sou a única fumadora ativa a entrar aqui, mas vale que na net não impesto o ar, nem prejudico a saúde de ninguém! :)

    Como é óbvio, não podia estar mais de acordo com a crónica de Manuel António Pina! Esse Francisco George é um fundamentalista execrável, na demanda de nos pôr a todos saudáveis com aquilo que ele acha que nos faz bem à saúde...

    Ainda não se lembrou de ditar regras sobre uma vida sexual saudável, com dias e horas previamente estipulados, para também não atormentar o direito ao descanso da vizinhança, mas vai do bom caminho...

    Beijocas!

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  7. Eu fumo.

    E, todos os dias, vejo no meu ato de fumar um dever cívico. Contribuo para que não haja mais desempregados no país.

    Além de que, como as coisas estão, lá voltaremos aos antigos métodos de conservação - salgadeira, fumeiro e sol... Por já andar no fumeiro, não tenho rugas...

    Beijo

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  8. ALELUIA ALELUIA já comento aqui!!!!

    Nem vou escrever muito para não estragar a caixa dos comentários. Hehehe.

    Aqui a menina fumava três macitos, mas à sete anitos para cá que cigarritos népia.

    Muitos beijinho e muitas flores (em rectroativos)

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  9. Deixei de fumar quando comecei a namorar "a sério". Pessoalmente nada tenho contra quem fuma, pelo contrário, tudo a favor. Quantos mais fumarem mais arrecada o Estado...
    Só não gosto é de beatas!
    :)

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  10. Excelente cronista, também gosto de o ler.
    Bjs



    que é feito da Carol?

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  11. A Carol foi substituída pela GS com as mudanças a que o blogger "me obrigou"... e agora não sei como lá pôr de novo a Carol - de quem eu gostava mais....

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  12. Também gosto de Carol, é experimentar e colocar Carol mais qualquer coisa...pode ser até um numero assim talvez aceite.
    Bjs

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