sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Lisboa



Tomas Tranströmer manifestou-se  “feliz e emocionado” por ter sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura 2011.

A mulher de Tranströmer, que falou em nome dele à imprensa sueca, disse que o poeta não acreditava que pudesse viver para assistir a este grande momento.

Tomas Tranströmer, psicólogo de formação, sofreu um acidente vascular cerebral em 1990 e ficou que com parte do corpo paralisada e com a fala afectada. Mas o AVC não o impediu de continuar a escrever. Além disso, Tranströmer faz questão de tocar piano, apenas com uma mão, todos os dias.

A sua poesia ainda não está traduzida para português. Apenas alguns poemas foram vertidos para o português, um dos quais, Lisboa, que deixo aqui, e que faz parte da coletânea “21 Poetas Suecos” organizada nos anos 80 por Vasco Graça Moura e Ana Hatherly.





Lisboa

No bairro de Alfama
os eléctricos amarelos
cantavam nas calçadas
íngremes
Havia lá duas cadeias.
Uma era para ladrões
Acenavam através das grades:
Gritavam que lhes tirassem
o retrato.

'Mas aqui', disse o condutor
e riu à socapa
como se cortado ao meio
“aqui estão políticos'.
Vi a fachada, a fachada,
a fachada e lá no cimo
um homem à janela
tinha um óculo e olhava
para o mar.

Roupa branca no azul.
Os muros quentes
As moscas liam cartas
microscópica.
Seis anos mais tarde perguntei
a uma senhora
de Lisboa
“Será verdade
ou só um sonho meu?'"

(Tradução de Vasco Graça Moura)



Prisão do Limoeiro (mencionada na 1ª estrofe)



Palácio de São Bento (mencionado na 2ª estrofe)


8 comentários:

  1. Olá, Carol... a vida vai nos surpreendendo de muitas formas e, não fez diferente com Tomas Transtömer... Ainda assim, fisicamente meio combalido ele sobrepõe-se às dificuldades e não se entrega à depressão. Ele faz. Deixa-nps grande exemplo! Parabéns pela sua postagem!
    Abraço, Célia.

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  2. Amiga, tenho grande admiração pelos teus relatos, pois sempre lembro de familiares que tenho aí ...Nada a ver, né, são os meus fantasmas, que não me deixam, doces lembranças.
    Esse psicólogo sueco é um homem de verdade, não se deixou abater com a doença, queria ser assim, forte...qualquer problema eu desmorono, vem a depressão.
    O poema é belo, escrito com alma*
    Um abraço daqui dessa terra. O clima aqui já está quente demais, e estamos na primavera.
    Boa noite,aqui são 19:13.
    Mery*

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  3. Em Lisboa se alguém entrar em depressão é só olhar o Tejo e tudo desaparecerá.... Lindo Tejo!

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  4. Não menosprezo nem desvalorizo
    o poema sobre Lisboa. Tenho juizo...
    ...Mas é tão fácil poemar sobre uma cidade bela
    Dificil será fazê-lo sobre as gentes que vivem nela.

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  5. parabens.

    espero poder ler mais

    Bjinhos
    Paula

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  6. Esse eléctrico que a 1ª estrofe refere é o 28 (o mais famosos de Lisboa) e a árvore que está em frente à Prisão do Limoeiro (desconheço o nome) tem um tronco tão largo e tão enrugado que atinge quase o diâmetro da copa (nada que se compare ao Palácio de São Bento).
    :)

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  7. Não há como um pintor para os últimos retoques do teu quadro "carol". Olha só com que nitidez ficou depois do comentário do Rui!

    Parabéns pela tua postagem (ao nível de todas as outras - acrescente-se)

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  8. É bem verdade, Paty! Rogério!

    E as ironias do menino Rui...

    Que exagero, Isabel!

    Obrigada a todos.

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