quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Desabafo sem retorno

 



Ontem no médico – é que tenho andado sick and tired, já disse, não foi? – e depois de olhar para os exames que levava do estado em que está a o meu pobre esqueleto, o doutor, que me acompanha há já alguns anos e também me conhece das minhas andanças pela escola, disse com alguma ironia: “Você está um bocado pior que o seu substituto…” Que não, que não sabia de nada do que se passa por lá, devolvi-lhe eu. “Anda tudo por lá numa confusão. Dizem-me os pais que a escola anda ao deus-dará.” Sorri. Não de alegria, mas de compreensão pela eventual situação. E voltou ele à carga: “Olhe, por mim, não estou preocupado: os meus filhos já lá não andam…” Ouvira já outras queixas mais reais e mais completas de outras mães.

Não constitui para mim qualquer surpresa se, de facto, as coisas estão como me foi dito – e não duvido nada que as informações que cheguem ao médico sejam reais e verdadeiras, porque a população que se move pela “minha escola” é a que se move por estes consultórios do centro da cidade – mas lamento. Lamento porque, mesmo afastada que estou a todos os níveis, não posso ignorar 36 anos da minha vida que acompanharam e influenciaram muitas vezes de forma determinante – e digo-o sem qualquer resquício falsa modéstia – a vida daquela escola, daquele grupo de escolas, na atualiadade. Por outro lado, lamento porque a mudança, que, com efeito, trouxe uma completa inversão de valores na governação daquela comunidade, foi determinada, quase exclusivamente, por um grupo de dirigentes de associações de pais manipuláveis e manipulados, filhos de uma nova média burguesia cultural e académica emergente da terra (que é também a do país) que pensaram – se calhar por alguns sinais claros que lhes foram dados – que podiam ir “mandar” na escola e nos professores – classe na qual toda a gente parece querer mandar, vá-se lá saber porquê… 
Queriam – foi dito e apregoado – um novo estilo de liderança. Lá vieram, porque se usa, os conceitos e as palavras (se calhar mais as palavras que os conceito) das ciências da gestão de empresas aplicadas à escola, quando todos (?) sabemos que uma escola não se pode gerir como uma empresa. 

Queriam um novo estilo de liderança e agora lá o têm! Um estilo de liderança apoiado nas palavras fáceis, nas pancadinhas nas costas, no grupinho de amigos, num “laissez-faire, lessez passer” que alterna e se mascara com um certo autoritarismo para “ os outros”, no deixar constante de pontas soltas e promessas por cumprir, no plano B.  

Lamento. Podem crer que lamento.


7 comentários:

  1. Querida Carol, li este teu texto com alguma mágoa. Porque tal como dizes, um pouco por todo o lado existe este "agradar a gregos e troianos" e o "deixa-me safar que tenho os filhos para, criar..

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  2. Como te entendo, Carol!! Meu limite como educadora findou-se exatamente quando misturaram gestor / gerente educacional / lideranças em coaching / e tantas outras nomenclaturas que o beabá da escola foi para lata do lixo!! Escola virou empresa de ganhar dinheiro! E, nós simples empregados descartáveis. Enxotam-se os "velhos experientes" e contratam (como empresa) novos funcionários com salários irrisórios com visão apenas no lucro e não pedagógica! Se isso for "investir na educação"... nossos amados países estão mal das pernas!!
    Abraço, Célia.

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  3. Nem mais!
    Vamos a ver como se dá agora a volta a este estado...

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  4. Diz o doutor que ainda estás pior do que o tal por isso cuida-te e deixa-te de sofrer penas que já não são tuas!
    Conselho de amiga! :-))

    Abraço

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  5. Caro Fadista, receio bem que dificilmente se dará a volta a situações destas....

    Obrigada, queridas amigas, pela vossa compreensão.

    Rosinha, tens razão, muita razão. Mas sabes como sou "casmurra" - coisas de Carneiro.... Ih! Ih! Ih! Há que rir!

    Beijinhos

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  6. Estás a ver porque razão a maioria está contra os Professores que são a parte visível da má educação nas Escolas? A outra parte é, obviamente os novos Pais que acham por bem arranjar bodes expiatórios para a parte que igualmente lhes toca.

    Para serem bons gestores os Professores não querem ser avaliados como tal.

    Chuac!!!

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