terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Baile da Sociedade



(Baile na Sociedade União Sintrense)

(Ainda no 'rescaldo' da festa dos Diamantes e a propósito de um comentário do amigo Observador que disse "foi um baile tipo «a menina dança?»" lembrei-me de deixar aqui uns versos do meu amigo e companheiro de escola ZéBranco, lá em Sintra, sobre os velhos bailes de sociedade de que todos nos lembramos.  Cuidado que ele é muito mordaz...)


No baile da sociedade
Encontra-se a mocidade
Com velhos guardiões da instituída moral.


Tanto quanto era natural
A moça ficava sentada
No seu canto e bem recatada
Ansiosa para que do outro lado
O rapaz de domingueiro
Fato bem engomado
Primorosamente engravatado
Esperava ser o primeiro
No convite para dançar:
A menina dança?
O coração balança
Na permanente dúvida…
E se ela não aceitar!
Iniciam a dança
Sob a carregada desconfiança
De uma mãe extremosa
Ainda orgulhosa
De não ter filha falada,


Quantas vezes uma dança mais apertada
Foi geradora de novas emoções
E de uma saliência prematura
Que só encontra a sua cura
Após nove lunações.


O Baile na Sociedade
Vê a escala da moralidade
Num mestre de sala
Vestido quase de gala
Afastando todo o par
Que no aconchego das ânsias
Encurte distâncias
Disfarçadas pelo dançar,
Até que a música se enrola
Ao último acorde
Do dedo que morde
A corda da viola
E antes que tudo demande
O mestre interrompe a jazz-band
E manda acompanhar
As damas ao bar.


No Baile da Sociedade
Sente-se a verdade
Sob o leve vestido de chita
De quem se excita
Só pela esperança
De numa única dança
Conseguir o desejo guardado
De um beijo roubado
Na distância e no espaço

Que o trejeito brejeiro
Disfarçou no meio de um passo
De um fox ligeiro.


Baile na Sociedade
Ai que saudade!

(José do Nascimento)

6 comentários:

  1. Confessa lá: bela vida a tua. Estou a ficar fã:=)

    E belos amigos os teus...Todos artistas?

    :)

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  2. Belo retrato em forma de poema!
    Eu era mais "bailes de garagem"...
    Com papás e mamãs a vigiar à vez! :-))
    O meu pai nunca esteve para isso mas a minha mãe chegou a estar "de seviço"!
    E divertíamo-nos bastante!:-))

    Abraço

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  3. Boas recordações... quem as não tem? : )

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  4. Na foto um Baile das Camélias nos tempos actuais, meia dúzia de pares! Se fosse uma foto com quarenta anos só se viam cabeças, o chão estava todo tapado.
    O Zé Nascimento nunca foi de bailaricos, mas como pessoa muito perspicáz que é, acertou na mouche.
    Este é mais um bom produto do muito que ele tem já feito, e ainda há-de fazer. Merecia mais divulgação.

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  5. “Naquele tempo” dançava-se bem mais apertado, i.e., havia menos salão, mais pares e o “respeitinho” era uma coisa muito linda.
    :)

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  6. Ah! Todos se lembram, com alguma saudade, desses bailes do antigamente em que se dançava apertadinho...

    Quanto ao que o ZéBranco, meu querido colega de escola, escreveu e escreve (e muito bem!) é só darem-me que eu divulgo o mais possível... (ele é, sempre foi, um tímido!)

    M! - tens razão. Bela vida a minha, actualmente, mas podia ser ainda melhor...

    Beijos.

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