Deprime-me a época do Carnaval. E
não é por não gostar desta quadra como afirma grande parte das pessoas minhas
conhecidas. Eu sempre me considerei uma pessoa divertida e que gosta de se
divertir, por isso gosto, ou melhor, gostava de brincar ao Carnaval.
Lembro-me, ainda em Algés, que a
minha avó me levava de elétrico ao cinema do Restelo em Belém, às matinées para
crianças onde muitas delas estavam mascaradas e onde se atiravam serpentinas e
papelinhos de cores bem vivas e os já muito esquecidos saquinhos de serradura
que tanto faziam doer em quem eles acertavam… E, claro, as irritantes bisnagas
de água com nos molhavam a cara e os cabelos. E eu, que era uma menina educada
sozinha com os meus avós, sossegada e tímida, achava tudo aquilo tão divertido,
tão fora do meu mundo cinzento…
Depois, Sintra, já na
adolescência, no tempo do colégio felizmente misto, vieram as festas em casa
desta e daquela, os primeiros bailes dos meus Diamantes, o primeiro baile na
garagem não sei de quem lá para baixo para a Rua da Pendoa ou para a Rua da
Biquinha, os bailes da SUS, aquela loucura anos 60 – se bem que uma loucura
algo permitida, algo dominada – as festas em nossa casa, as mascaradas
trapalhonas, os primeiros beijos…. Viviam-se as semanas a estudar muito para
restar todo o tempo livre para as festas nos fins de semana.
A Faculdade trouxe outra etapa,
outros amigos, outro namorado. Adeus Diamantes! As festas de receção aos
caloiros no Espelho de Água, os bailes de carnaval nas Belas-Artes, a louca
música dos carnavais brasileiros e os próprios dos jovens brasileiros que por
cá andavam e estudavam. Tanto divertimento! Tanta emoção!
E já adultos e casados, ainda
houve festas de Carnaval e de Passagem de Ano, com muita música e muita dança e
muito divertimento. Mas nunca nada de desfiles ou de corsos com aqueles
deprimentes carros alegóricos cheios de meninas em bikini a fingir que sambam,
mas a tiritar com frio. Esse nunca foi o meu Carnaval.
Porém a vida, na sua inexorável
trajetória, começou a descrever o arco de volta inteira (ou de volta abatida,
sei lá!) e as festas e as folias deixaram de surgir e de fazer sentido. Ficou a
memória e uma certa nostalgia, pois que mais poderia restar.
E são essa memória e essa
nostalgia – junto com os primeiros estremeções que a primavera nesta altura do
ano dá no ar e este novelo labirinticamente emaranhado em se me move a mente – que me deprimem.