Deus e os meus amigos sabem bem
que não sigo os ritos católicos, nem religiosos em geral. Só que, de vez em
quando, há aquelas obrigações familiares e sociais a que é preciso
corresponder.
Foi o caso de hoje. Partiu desta
vida a última dos ascendentes da família próxima do meu marido. Uma tia, viúva
do tio irmão da minha sogra, a última matriarca da família, com 93 anos de uma
vida cheia de altos e baixos – como as de todos nós que descemos a este paraíso
terreal – e que, pelo menos na minha perspetiva, era um doce de senhora que,
especialmente nos últimos anos de vida, depois de ficar sozinha, se tornou
ainda mais doce.
Os filhos, nossos primos,
portanto, decidiram-se por uma despedida religiosa e nós lá fomos acompanhar
aquela nossa tia tão recetiva e compreensiva nos seus últimos momentos aqui
connosco.
Entrou o celebrante, um jovem de
hábito branco e até aí tudo bem. O pior foi quando abriu a boca: nem o nome da
senhora conseguiu dizer direito: (senhora Maria Glória, dizia ele). Isto depois
de falar várias vezes no marido da defunta, não percebendo, quem não fosse da
família, se ele era vivo ou morto. Utilizou (mal quanto a mim, claro!) a
parábola das dez virgens sensatas e das dez virgens descuidadas que foi tão
maltratada que deixou o Senhor um bocado malvisto…
Entoava bem, mas quando falava, a
voz não tinha força nem projeção e tropeçava no meio das frases. Uma lição mal
preparada, cogitava eu, professora dos quatro costados… A única coisa que lhe
saiu bem foi rezar o Pai-Nosso, até porque todos os rezaram em coro…
Quando eu pensava que ia
continuar para missa por alma, o jovem pediu a colaboração de alguém para levar
a cruz e terminou dizendo: «agora façam duas filas atrás e sigam atrás da
cruz».
Pensei cá comigo: «Ai, Graça Maria, que está cada vez mais
crítica; tu que nem segues estes ritos senão esporadicamente…» Mas depois
lembrei-me do “meu” Padre Abílio, lá de Sintra, de quando eu ia ao “santo
sacrifício da saída da missa”, que sabia como portar-se como um verdadeiro
celebrante (missas em latim, naturalmente!) voz projetada e língua afiada para
os adolescentes tontos feito eu quando lá aparecíamos… Que diferença!
Não fui apenas, porém, eu a notar
o desconcerto do jovem pároco: havia quem rolasse os olhos de espanto. E até
ouvi alguém dizer que o jovem não era padre, era apenas missionário.
Fosse o que fosse, prestou um mau
serviço à Igreja. Além de que a nossa tia (Maria da) Glória merecia melhor…