Sei que o tema é melindroso, mas não resisti a transcrever o texto de opinião (ou grande parte dele) que o meu facefriend Carlos Esperança publicou hoje lá no facebook. É que, além de estar sobremaneira bem escrito, até dá vontade de rir. Ou de chorar, sei lá.
O texto tem o título de «Demónios e exorcismos» e diz assim:
«A religião que apavorava as
noites da infância, com demónios das profundas do Inferno, nas recônditas
aldeias da Beira Alta, foi esquecendo o Maligno, talvez por este ter maior medo
das escolas do que do sinal da cruz ou ter-se cansado de atormentar as almas.
Se a memória me não falha, todos
os párocos tinham então alvará para exorcismos, além das tarefas inerentes ao
tríplice múnus do sacramento da Ordem. Agora, só a licença do Ordinário do
Lugar, designação canónica do bispo da diocese, habilita para exorcismos, sendo
as restantes tarefas do múnus sacerdotal, profético e pastoral comuns a todos.
Hoje, com a escassez de demónios,
sem íncubos e súcubos, de vocação libidinosa, cuja existência era atestada por
Tomás de Aquino e outros santos doutores, o Papa declarou que o Inferno era uma
criação humana.
O Papa pode duvidar, mas a Cúria
não, e obrigou-o a recuar no despautério teológico e a dizer que o demónio
existe, certificado por exorcistas. Há quatro anos, a Igreja católica reconheceu
oficialmente a Associação Internacional de Exorcistas que reúne cerca de 200
especialistas (...)
Declaram os sábios exorcistas,
que desde amanhã até ao dia 21 vão lecionar no curso de exorcismo no Vaticano,
talvez para ficarem mais próximos do Demo, que “às vezes é preciso tapar a boca
porque os demónios cospem muito” e que “ouvindo um grunhido satânico uma vez
nunca mais se esquece”, entre outras peculiaridades demoníacas. (...)
Duarte Sousa Lara, que recusou
ser administrador de uma empresa pública, lugar que o pai lhe ofereceu (não
cabe aqui falar da licitude), para se dedicar ao serviço de Deus e … do
Demónio, com mais de 50 pedidos de ajuda semanais, é a estrela dos exorcistas
portugueses, reconhecido pela diocese de Lamego onde – diz ele –, exorciza
possessos enviados por psicólogos e psiquiatras amigos, casos que não reagem a
medicamentos. A afirmação exasperou o presidente do Colégio de Psiquiatria da
OM, que o levou a dizer que “o sobrenatural não existe em medicina” e a
comparar os exorcistas aos bruxos.
Sendo o sacerdote Sousa Lara
filho do devoto censor de Saramago e não de um íncubo, o que o faria nascer
bruxa e não exorcista, função reservada a homens, é de crer que este
psiquiatra, Miguel Bragança, seja excomungado por falta de fé. O mesmo pode
suceder ao padre Anselmo Borges, que disse: “O Diabo e os exorcismos são uma
crendice”. Não se duvida de um exorcista e, muito menos, do Catecismo da Igreja
Católica:
“Embora Satanás exerça no mundo a
sua ação por ódio contra Deus, e embora a sua ação cause graves prejuízos, essa
ação é permitida pela divina Providência. A permissão divina da atividade
diabólica é um grande mistério.”
Para um ateu o mistério maior é a
permissão divina para que o Demo atormente crentes e, nunca, incréus. É um
mistério explicável pela maldade de Deus, castigar os que mais ama. Os homens
que criaram Deus inventaram mais justo o Demo.
Duarte Sousa Lara gasta em média
20 minutos a realizar um exorcismo e carece de 1 a 5 ou 6 pessoas, conforme a
gravidade, para segurar os possessos, normalmente possessas, para que arrotem,
vomitem e se torçam, e, eventualmente, tapar-lhes a boca, porque ‘os demónios
cospem muito, mordem e é preciso cuidado’. Tem um longo futuro na função, e
coincide nas declarações com o mais antigo especialista do ramo, ainda em
funções, o padre Humberto Gama, que chegou a fazer exorcismos para a TVI. (...)
Há muitos demónios à solta. Um
dos maiores especialistas em exorcismos calcula que são anualmente
identificados 500 mil casos de possessão demoníaca, enquanto outro revela que
há diabos especializados em diabruras diferentes, sabendo-se que a oração e o sinal
da cruz são demonífugos profiláticos, mas não suficientes para dispensarem os
experientes exorcistas que regem cursos de formação e aperfeiçoamento no
Vaticano.
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