quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Miúdos

Miúdos 
A Vida às Mãos Cheias
a infância do Neo-Realismo português



É o título da exposição temporária que o Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira nos oferece e que pode ser visitada gratuitamente até aos finais do próximo mês de setembro.

Posso deixar aqui algumas imagens, mas quer a exposição, quer o museu merecem uma visita atenta e pormenorizada.




































(A Menina do Moinho de Joaquim Namorado)

(Meninos de Nuno San-Payo, 1950)

(Carro na Calçada de Júlio Pomar, 1950)







terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Chove

(e ainda bem, que a seca vai severa e longa por esse país fora)

Chove como sempre. E,
sempre que chove,
as pessoas abrigam-se
(as que não estavam à
espera que chovesse);
ou abrem, simplesmente,
o chapéu-de-chuva - de
preferência com fecho
automático. Porque, quando
chove, todos temos de
fazer alguma coisa: até
nós, que estamos dentro
de casa. Vão, uns, até
à janela, comentando:
“Que Inverno!”; sentam-se,
outros, com um papel
à frente: e escrevem
um poema, como este.

(Nuno Júdice | "Um Canto na Espessura do Tempo", 1992)




domingo, 25 de fevereiro de 2018

Vem lá o inverno!

Anúncios de que esta  prematura Primavera termina hoje e que o Inverno está de volta com chuva, vento e neve nas terras altas...

Por isso elas começaram já hoje a preparar-se para a invernia...








Fazei o mesmo. Boa semana!!

sábado, 24 de fevereiro de 2018

David Mourão-Ferreira



(24 de fevereiro de 1927 – 16 de junho de 1996)

Faria hoje 91 anos.

Em jeito de homenagem, fica aqui mais um dos seus extraordinários poemas.


Casa

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior do que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores, cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.

(David Mourão-Ferreira, Infinito Pessoal, in Obra Poética, 2006.)



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Relembrando José Afonso

Passam hoje 31 anos sobre a sua partida, mas a sua música ficará para sempre.




quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Dia Internacional da Língua Materna

O Dia Internacional da Língua Moderna foi proclamado pela UNESCO em 1999 com o objetivo de proteger e salvaguardar as línguas faladas em todo o planeta.

A escolha do dia 21 de fevereiro para comemorar o Dia Internacional da Língua Materna serve para lembrar a população mundial da tragédia que ocorreu em fevereiro de 1952, na cidade de Daca, no Bangladesh. Vários estudantes foram mortos pela polícia enquanto protestavam pelo reconhecimento da sua língua - o bengalês - como um dos dois idiomas oficiais do então Paquistão.

A nossa bela Língua Materna é falada nos vários continentes, sendo em cada um deles “adoçada” pelos respigos culturais de cada um desses grupos de falantes. Não é a “língua de Camões” como tantos gostam de a apodar e definir. É a língua de todos e cada um de nós que a usamos – melhor ou pior – a cada dia que passa. Isso é que faz a sua riqueza, a sua diversidade.



E, por muito que eu goste dos escritos de Camões – e mais ainda de Pessoa – não é a nenhum deles que recorro para, hoje, celebrar a nossa bela Língua Materna.

Deixo dois textos que li ainda muito jovem (o primeiro fazia parte do meu livro de Leituras da 4ª classe) que me fascinaram e de que nunca mais me esqueci.

O estatuário

«Arranca o estatuário uma pedra destas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem: primeiro, membro a membro e, depois, feição por feição, até à mais miúda. Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos. Aqui desprega, ali arruga, acolá recama. E fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.

O mesmo será cá, se a vossa indústria não faltar à graça divina. É uma pedra, como dizeis, esse índio rude? Pois trabalhai e continuai com ele (que nada se faz sem trabalho e perseverança), aplicai o cinzel um dia e outro dia, daí uma martelada e outra martelada, e vós vereis como dessa pedra tosca e informe fazeis, não só um homem, senão um cristão, e pode ser que um santo.»

(Padre António Vieira, pregando em defesa dos índios brasileiros - in Sermão do Espírito Santo)

Uma flor

«Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!»

(Almada Negreiros in "O Regresso ou o Homem Sentado - III parte")



terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Rebeldes


Não se trata da chamada «arte urbana» – que agora está na moda. É muito melhor do que isso.

São desenhos dos dois jovens irmãos leirienses Sérgio Luiz e Güy Manuel que viveram na primeira metade do século XX e que nos eram quase desconhecidos.

É uma exposição-roteiro, organizada pela Câmara Municipal e pelo Arquivo Distrital da cidade, que se estende pelas ruas de Leiria e que pretende dar projeção a estes dois irmãos e artistas leirienses, cuja obra se tem mantido maioritariamente no resguardo dos arquivos e memórias familiares.

Pelos quinze anos, Sérgio Luiz (1921-1943) começou a criar as suas personagens desenhadas que enviava para publicação no jornal infantil “O Papagaio”. Uma das personagens que criou foi o "Boneco Rebelde" protagonizando-lhe 4 aventuras publicadas, mais uma vez, n' "O Papagaio": "Viagens do Boneco Rebelde", "O Livro Mágico", "Uma Aventura no País dos Insetos" e "Novas Aventuras do Boneco Rebelde".




Mesmo depois de lhe ter sido diagnosticada a doença que o vitimou, continuou a colaborar n' "O Papagaio", que publicou a versão quadriculada de "História do Egito", "História da Índia", "História da Arábia", "História da Fenícia" e "História da Pérsia". Teve ainda histórias de banda desenhada publicadas no "Pim-Pam-Pum!”

Quase o mesmo destino teve o seu irmão Güy Manuel (1923-1943) que também teve desenhos e bandas desenhadas de sua autoria publicadas no "Pim-Pam-Pum!", "Ação Infantil" e "O Faísca", em livros da coleção e em jornais nacionais, tendo sido atacado por idêntica doença que o fez partir cedo de mais.


Deixo-vos com algumas imagens que fui recolhendo das paredes da cidade.



















(Uma história de Guy Manuel)











Parabéns à Câmara e ao Arquivo Distrital de Leiria. É uma boa mostra.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Da pieguice...

Aprendi muito cedo – sempre sou de Germânicas, não é? – que os ingleses, quando são apresentados a desconhecidos, dizem um educado e bem pronunciado «How do you do?» a que os outros respondem com o mesmo educado e vincado «How do you do?». E mesmo quando informalmente se encontram, cumprimentam com um «How are you?» e a resposta é simplesmente um «Fine, thanks» e “está a andar”. Mais informal ainda é o mero «Hi!» que leva por resposta qualquer coisa como «Hi, there!» e pronto.

Isto – foi-nos explicado – porque se trata apenas de um cumprimento e não para saber do completo estado de saúde do próximo. Dizia a minha primeira professora de inglês, há muitos, muitos anos, que para os ingleses «time is money» (que o mesmo é dizer “tempo é dinheiro”) e eles poupam até nas palavras – daí as muitas elisões da língua inglesa.

O que nós portugueses temos a aprender com os ingleses neste campo! Se encontramos uma pessoa conhecida, amiga, indiferente, daqueles que até nem gostamos muito, ou seja o que for e dizemos, por exemplo, «Olá! Como estás?», ou «Então tudo bem?» não é para sabermos das suas maleitas, das dores nas costas, da enxaqueca, da gripe da sogra, da unha encravada da cunhada… É apenas um cumprimento, um gesto de simpatia, uma manifestação de educação, sei lá! Não se me ponham por isso a contar as idas ao médico, ao dentista, ao homeopata de que uma vizinha lhe falou muito bem e que até é primo de uma amiga nossa que andou connosco no liceu, ou daquele massagista, que até é muito caro, mas vale bem a pena porque saímos de lá derreadinhos de “pancada” mas dores na lombar nunca mais… Poupem-me!

E se, por qualquer eventualidade, calha dizermos que, por acaso também sofremos da lombar ou da cervical ou de um dente do siso, lá temos para mais meia-hora de explanação sobre a guinada, a moinha, a dor aguda que, seja ela qual for, é por certo muito mais forte do que a nossa, superioridade que é simplesmente traduzida por um expressivo e suspirado «tu sabes lá!»

E depois ainda estranhámos quando o outro disse que deixássemos de ser piegas…




Tenham uma boa semana!


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Para maiores de 70 anos...

(a linguagem desculpa-se dadas as circunstâncias...)

Primeiro dia de aulas na Escola de Informática para a 3ª idade.
Zé, 70 anos de idade.

(daqui)


Windows 10: -Digite a sua senha.

Zé: -Zé.

Windows 10: -Desculpe, a senha não pode ser o seu nome.

Zé: -Zi.

Windows 10: -Desculpe, deve conter pelo menos 6 caracteres.

Zé: -Pepino.

Windows 10: -Desculpe, a senha deve conter pelo menos um número.

Zé: -Um pepino.

Windows 10: -Desculpe, a senha deve conter pelo menos um número em forma de algarismo.

Zé: -1 pepino.

Windows: -Desculpe, a senha não pode conter espaços.

Zé: -1pepinodemerda.

Windows: -Desculpe, a senha deve conter pelo menos uma maiúscula.

Zé: -1pepinodeMERDA.

Windows: -Desculpe, a senha não pode conter maiúsculas sucessivas.

Zé -1PepinoDeMerda!!!

Windows 10: -Desculpe, a senha não pode conter símbolos de pontuação.

Zé: -1PepinoDeMerdaParaQueOenfiesNoCuSeuFilhoDaPutaQueTePariu.

Windows 10: -Desculpe, essa senha já existe.



Bom fim de semana!


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Em modo de metáfora


Não se pergunta a quem não conseguiu aprender a ler «vês como falta faz saber ler?»

Já lhe chega sabê-lo, senti-lo. Não precisa da humilhação.




quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Celebrando o Amor

No dia em que se celebra o Amor, deixo aqui convosco uma bela, romântica canção de amor (com proposta de tradução...)




Imagens tuas em tons de azul
Vaporosas, instáveis, ondulando preguiçosas,
Minha querida, tenho tantas saudades tuas.

O tempo passa, não admira que os meus
Sentidos vão vacilando, os teus olhos chamando-me
É o que eu vejo toda a noite.

Quando nos voltaremos a ver? Quando? Quando? Quando?
Quando nos voltaremos ver? Quando? Quando? Quando?

Recordo aqueles dias, dias maravilhosos
Brilhando ternamente, a minha vida parecia
Começar e acabar contigo.

Quando nos voltaremos a ver? Quando? Quando? Quando?
                                  Quando nos voltaremos ver? Quando? Quando? Quando?




Porém, nunca o Amor foi tão bem definido como neste magnífico soneto de Camões.

«Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?»


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Morreu Natália Nunes



Sua filha escreveu hoje de manhã na sua página do facebook:

AOS AMIGOS: A MINHA MÃE MORREU HOJE

Sua filha é a escritora Cristina Carvalho. Natália Nunes foi a mulher do professor e cientista Rómulo de Carvalho, o poeta António Gedeão que nos deixou em fevereiro de 1997.

Natália Nunes (1921 – 2018) ela própria escritora – algo desconhecida e muito esquecida.  

«Ninguém conhece esta escritora, tradutora, ensaísta. Alguns conhecerão vagamente. É assim a vida.» - Escrevia sua filha, Cristina Carvalho, em 18 de novembro último, dia em que sua mãe fez 96 anos.



De forma muito sintética e desassombrada, mas muito completa, o escritor Eduardo Pitta escreveu hoje no  seu blog o que eu aqui transcrevo:

«Natália Nunes morreu hoje. Tinha 96 anos. Romancista, memorialista, dramaturga, ensaísta e tradutora, Natália Nunes estreou-se em 1952, com o livro de memórias Horas Vivas. Próxima do existencialismo, destacaria da sua vasta obra ficcional Autobiografia de uma Mulher Romântica (1955), Regresso ao Caos (1960), Assembleia de Mulheres (1965), O Caso de Zulmira L. (1967), A Nuvem (1970), Da Natureza das Coisas (1985), As Velhas Senhoras e Outros Contos (1992) e Vénus Turbulenta (1997). A peça de teatro Cabeça de Abóbora (1970) é uma farsa demolidora da burocracia dos Estados totalitários. Na área do ensaio, As Batalhas Que Nós Perdemos (1973) colige estudos sobre Augusto Abelaira, Cardoso Pires e Raul Brandão. Um extenso ensaio sobre Finisterra, de Carlos de Oliveira, foi publicado em 1997: A Ressurreição das Florestas. Num tempo em que o feminismo não era uma profissão, Natália Nunes antecipou-se ao seu tempo, defendendo com desassombro a real emancipação das mulheres. Não o fez em comícios: a Obra responde por si.

Depois de traduzir Dostoievski, Tolstoi, Simonov e Elsa Triolet, Natália Nunes conseguiu a proeza de, em pleno salazarismo, traduzir La Bâtarde, o livro maldito de Violette Leduc, que assim chegou de forma admirável à língua portuguesa. Em 1945 casou com o cientista, pedagogo e professor Rómulo de Carvalho, mais conhecido pelo pseudónimo de António Gedeão. Durante quarenta anos, Natália Nunes colaborou com regularidade nos títulos mais relevantes da imprensa. Foi conservadora da Torre do Tombo (1957-68) e fez parte da última direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores, extinta pelo Estado Novo em Maio de 1965. É mãe da escritora Cristina Carvalho.»