A ler este magnífico livro de
Mário de Carvalho: «Quem disser o contrário é porque tem razão – Letras sem Tretas – Guia
Prático de Escrita de Ficção»
Já o tinha “cheirado” na livraria
quando saiu ainda não há dois anos. E, um dia destes, veio parar-me às mãos na
Biblioteca Municipal. Gosto muito do autor, se bem que não de fácil leitura (se
calhar por isso é que gosto…). Gosto da sua linguagem, da sua sintaxe complexa mas
corretíssima, do vocabulário quase erudito, da sua ironia – mais que tudo.
Parece tratar-se de um compêndio
de escrita criativa, como está na moda de há uns anos para cá. Mas não é. Não esperem
listas de verificação (à americana) nem conselhos (oh como odeio esta palavra!)
ou normas para bem escrever. A ironia, portanto, apresenta-se logo à janela,
com o título. «Letras sem Tretas» -
atraiu-me especialmente. («Letras são
Tretas»!! A vingançazinha pouco criativa dos colegas de Ciências e das
Engenharias na cantina da Universidade ressabiadinhos porque se matavam a “empinar”
conceitos e a escrever relatórios – à mão, pois claro, que não havia
fotocópias, nem computadores… enquanto nós – diziam eles – nada tínhamos para
fazer.
Numa breve Nota Prévia, o autor
começa por dizer no seu tom mais simples:
«Este livro não é um trabalho académico.
Ao correr da pena, reúne e dá sequência a observações empíricas da
experiência da escrita, da memória do autor e de uma ou outra consulta em
segunda mão. (…)
O autor não tenciona, nem de longe, nem de perto, atrever-se ao terreno
da teorização narratológica e visa muito aquém dos estudos literários. Pretende
tão-só, num itinerário vagamundo, desvendar uns poucos caminhos, anotar-lhes as
curvas e contracurvas, prevenir dos salteadores e trapaceiros, e indicar
algumas razoáveis estalagens.(…)»
Claro que eu, pessoalmente, não
tenho a mínima intenção (nem propensão) de me pôr a escrever um livro de ficção,
mas estou a ler este Guia Prático de Escrita “a todo o vapor” como se de um
romance de aventuras se tratasse…
É um verdadeiro tratado de literatura,
de cultura. Mas, mais do que isso, estou a divertir-me imenso! A ironia de
Mário de Carvalho não está longe da de Saramago.