E não apenas porque conheço a sua obra há muitos anos. E não apenas pela sua independência e isenção. Desde que Cavaco - com a sua proverbial incapacidade de avaliar as pessoas - o convidou para «cabeça de cartaz» daquele 10 de Junho de 2012 fiquei com a nítida noção de que ele seria o Homem.
Mas porque há quem o diga muito melhor do que eu, deixo aqui parte das razões apontadas pelo Professor Carlos Fiolhais para votar em António Sampaio da Nóvoa.
«Vou
votar em Sampaio da Nóvoa. (...)
Mas não votarei em Sampaio da
Nóvoa apenas por ele ser independente e isento. Votarei nele porque, uma vez
eleito, saberá transmitir ideias mobilizadoras. O Presidente pode não ter, à
parte situações de crise, muitos poderes, mas tem sempre o poder da palavra. E
as palavras importam: traduzem ideias e determinam o futuro. São as palavras
que nos orientam no meio da incompreensão e da incerteza. As palavras que
queremos ouvir como fazedoras de futuro são, com certeza, democracia,
liberdade, solidariedade, mas são também ciência, educação e cultura. E todas
essas palavras têm sido ditas, sem dúvidas nem equívocos, por Sampaio da Nóvoa.
Antero de Quental, no manifesto
de 1871 que anunciava as Conferências Democráticas, co-assinado com Eça de
Queirós, falava da necessidade de “agitar na opinião pública as grandes
questões da Filosofia e da Ciência moderna”. Em Causa da Decadência dos Povos
Peninsulares Antero escreveu: “A Europa culta engrandeceu-se, nobilitou-se,
subiu sobretudo pela ciência: foi sobretudo pela falta de ciência que nós
descemos, que nos degradámos, que nos anulámos.” Hoje tornou-se claro que não
há futuro sem conhecimento. O extraordinário desenvolvimento da sociedade
humana nos tempos modernos deveu-se precisamente à ciência. Sampaio da Nóvoa
como Reitor da Universidade de Lisboa colocou a ciência à cabeça. Ciência é uma
palavra de futuro.
Mas, se o nosso atraso vem da
falta de ciência, de onde vem a falta de ciência? Volto a Antero: “Dessa
educação, que a nós mesmo demos durante três séculos, provêm todos os nossos
males presentes.” O nosso défice de ciência veio do nosso défice de educação,
outra palavra sem a qual não há futuro. Ficámos feridos com a nossa falta de
escola no século XIX. O caso do atraso educativo português faz aliás parte dos
livros de história do desenvolvimento. David Landes, economista de Harvard,
apontou o dedo ao nosso analfabetismo na sua obra A Riqueza e Pobreza das
Nações: “O contraste no analfabetismo entre os países do Sul e os do Norte da
Europa é indubitavelmente grande. Por volta de 1900, 3% da população da Grã-Bretanha
era analfabeta, o número para a Itália era 48%, para Espanha 56% e para
Portugal 78%”. O défice de qualificações é hoje o grande drama nacional que
urge superar. Ainda temos 5% de analfabetos e a percentagem de pessoas com um
grau de ensino superior não chega aos 17%. Apesar dos progressos recentes,
continuamos na cauda da Europa na qualificação da população activa. Sampaio da
Nóvoa lembra-nos que falta ao nosso país uma escola que persista no trabalho e
que prepare para o trabalho persistente.
Finalmente, a terceira palavra de
futuro: cultura, ao mesmo tempo condição e resultado da ciência e da educação.
Na linha da Questão Coimbrã, os republicanos preocuparam-se com a cultura.
António Sérgio, o pedagogo que foi ministro da Educação na Primeira República,
afirmou: “o problema da cultura, o problema da mentalidade: este é, se me não
engano, o problema característico de Portugal moderno, e o mais grave dos
problemas da sociedade portuguesa.” Sophia Breyner Andresen, a poeta que foi
deputada na Constituinte, explicou: “perante a política a cultura deve sempre
ter a possibilidade de funcionar como antipoder”. E Alexandre O´Neill, o poeta
amargurado e irónico, resumiu: “Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo/
golpe até ao osso, fome sem entretém.” Sampaio da Nóvoa leu e lembra-nos as
palavras deles.»
Compreenderão que isto representa muito mais do que quantos Marcelos, do que quantas Marisas podem oferecer.