Como sou uma rapariga da primeira
metade do século passado, para finalmente conseguir vaga na Preparatória de
Leiria sem ter de recorrer aos favores do Senhor Diretor, mandei-me, saída da Faculdade, a fazer o
estágio profissional ainda antes do 25 de Abril. Aquele estágio que obedecia a ter professor metodólogo e professor assistente em cada uma das disciplinas a
quem tratávamos por Senhor Doutor, que apareciam de surpresa nas nossas aulas
para fazerem as 18 assistências obrigatórias anuais em cada disciplina, que nos
davam «aulas» semanais de didáctica e de pedagogia a que chamavam seminários de
metodologia e nos quais cada uma de nós seis apresentava um trabalho escrito.
Para além de tudo isto e de tudo o mais que já nem quero relembrar, tínhamos de
preparar uma dissertação sobre um tema de pedagogia relacionado com a nossa
prática de durante o ano e que serviria de base à discussão a ter com um júri
de professores metodólogos no chamado Exame de Estado.
Recordo com algum prazer e algum
orgulho as manifestações em que participei em inícios de Maio de 74, à frente
do Ministério na 5 de Outubro, com cartazes improvisados que diziam «Abaixo o
Exame de Estado» e das recepções por parte dos chefes de gabinete que ouviam as
nossas reivindicações…
Foi só em fins de Maio, já em
vésperas da realização da provas do Exame de Estado e com as dissertações
prontas a serem entregues, que ficámos a saber que o dito Exame tinha caído.
Abençoado 25 de Abril (também por isso).
Não me livrei no entanto de, anos
mais tarde, na década de 90, e porque não fizera o malfadado Exame de Estado,
ter de me submeter ao exame de acesso ao 8º escalão que compreendia a defesa do
currículo e de um trabalho escrito. Nem queiram saber a «chuchadeira» que foi na
organização dessas provas cuja discussão era feita num júri constituído por
professores que já se encontravam no topo da carreira, ou seja no 10º escalão,
a maior parte dos quais nem sabia muito bem o que estavam a fazer.
Mesmo assim e apesar de todas
estas e outras vicissitudes, lá fui conseguindo ultrapassar com bastante
sucesso todas estas provas (e outras). O mesmo não teria acontecido, tenho a certeza,
se – como muitos colegas que desenvolveram a sua vida profissional com denodo e
muito sucesso – tivesse de me submeter a uma prova com trinta itens bem
diversificados e que me exigisse, eu que sou de professora de Inglês, a
responder a questões como esta:
«Um indivíduo entra numa loja
para comprar um computador. Quando vai pagar, o funcionário explica-lhe que o
preço marcado não inclui um imposto de 19% nem um desconto de 10%.
O funcionário, que trabalha há
pouco tempo na loja, tem algumas dúvidas sobre a aplicação das percentagens.
27. Qual das opções que se seguem
apresenta um raciocínio correto sobre a aplicação daquelas duas percentagens?
(A) Se calcular em primeiro lugar o desconto
de 10%, favoreço a loja, uma vez que o desconto vai ser menor e o cliente paga
mais.
(B) Se aplicar em primeiro lugar a taxa de 19%
relativa ao imposto, prejudico a loja, pois o desconto vai ser maior e o
cliente paga menos.
(C) Como tenho de acrescentar uma
taxa de 19% ao preço do computador e depois retirar 10%, posso acrescentar
apenas uma taxa de 9%.
(D) O cliente paga o mesmo qualquer que seja a
percentagem que eu aplicar em primeiro lugar, os 19% do imposto ou o desconto
de 10%.»
Ou como esta:
«O mapa apresenta a rede de
transportes de uma cidade. Estão representadas as linhas do metropolitano, a
Estação de Comboios, o Terminal de Autocarros e a ligação deste ao Cais para a
travessia do rio.
(apresentação de um mapa de transportes)
A rede de transportes começa a
funcionar às seis horas.
Do início de cada linha do
metropolitano, sai uma carruagem de cinco em cinco minutos.
O tempo que demora a fazer um
percurso é contado desde que o metropolitano sai da primeira estação desse
percurso até ao momento em que chega à última.
Tenha em conta que: – o tempo
médio do percurso entre duas estações consecutivas é 3 minutos; – o tempo médio
de permanência numa estação, sem efetuar mudança de linha, é 1 minuto; – o
tempo médio de permanência numa estação, efetuando mudança de linha ou de modo
de transporte, é 3 minutos.
Do Terminal de Autocarros, sai um
autocarro de 10 em 10 minutos, que demora 12 minutos a chegar ao Cais. Do Cais,
sai um barco de 15 em 15 minutos, que demora 20 minutos a fazer cada travessia.
Quer o barco quer o autocarro regressam de imediato ao ponto de partida.
20. Qual é o menor número de
estações em que é necessário passar para ir do Picadeiro ao Quartel?
(A) 4 (B) 5 (C) 7 (D)
8
21. O Sr. Américo saiu do Mercado
às 8 h 40 min e só fez uma mudança de linha. A que horas chegou à Estação de
Comboios?
(A) 9 h 11 min (B) 9 h 13 min (C) 9 h 17 min (D) 9 h 19 min
22. Qual é o número mínimo de
autocarros e de barcos que são necessários para garantir as condições normais
de funcionamento da rede de transportes?
(A) 3 autocarros e 3 barcos (B) 3 autocarros e 2 barcos (C) 2 autocarros e 3
barcos (D) 2 autocarros e 2 barcos
23. O Sr. Alfredo iniciou o seu
percurso na estação da Câmara Municipal às 7 h 10 min e vai sair no Terminal de
Autocarros para apanhar, no Cais, o primeiro barco que conseguir. A que horas
parte esse barco?
(A) 7 h 20 min (B) 7 h 30 min (C) 7 h 45 min (D) 7 h 50 min»
E será assim que se testa a
competência pedagógico-didática dos professores? E que interesse tem uma prova
destas? Ou será que, para além de se «chumbar neles» para poupar o erário do “governo”,
servirão também para mostrar aos pais e aos alunos e ao público em geral que os
professores são uma cambada de ignorantes que não sabem o que andam a fazer?
Poupem-nos!!
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(imagem retirada da net) |