Tenho o maior apreço por este Senhor e por (quase) tudo o que ele diz e escreve. Por isso deixo aqui a sua opinião sobre a crise de liderança que se vive no PS e com a qual concordo.
Só lamento que tenhamos de pensar assim sobre o atual Secretário-Geral do partido. É que, apesar de tudo, ele é um de nós.
Costa: A renovada
esperança
«Eu também quero escrever sobre
António Costa. Sem qualquer ambição política ou necessidade de notoriedade,
pretendo apenas dizer que senti um apelo a que não posso ficar indiferente:
Costa devolveu-me a esperança na política e a crença de que vale a pena confiar
num futuro melhor.
Costa significa para mim um
renovado interesse pela política e a expectativa de que não estaremos
condenados, nos próximos quatro anos, a suportar, por mais tempo, a apagada
tristeza em que vivemos.
Conheço Costa há muitos anos.
Recordo a campanha, por si dirigida, que levou o meu irmão à sua histórica
vitória sobre Cavaco Silva, em 1996. Estive a seu lado no primeiro êxito para a
Câmara de Lisboa, em que conseguiu reunir à sua volta muita gente fora do
Partido Socialista. Alegrei-me com o seu expressivo triunfo nas últimas
eleições autárquicas.
Dá-me prazer ouvi-lo na
Quadratura do Círculo, o único programa de política que me interessa. Apreciei
o seu trabalho como ministro. Considero-o competente para liderar um Governo.
Tem um passado com provas dadas. É inteligente e decidido. Por isso escrevo
este texto.
A liderança baça de Seguro nem
sequer entusiasma os mais próximos. Quando alguém diz que se teve de anular
três anos para garantir a unidade interna define-se, a si próprio, como um
líder incapaz de unir através de um projecto mobilizador, que juntasse à sua
volta um significativo número de cidadãos. A sua estratégia de transformar as
eleições europeias numa espécie de antecâmara do triunfo nas legislativas
resultou num fracasso: a vitória foi magra, das 80 medidas ninguém é capaz de
citar mais de duas ou três, a sua pretendida pretensão de ser já considerado o
futuro primeiro-ministro não passou de um desejo partilhado por poucos. As suas
frases actuais, proferidas num tom pretensamente firme e audaz, estão tanto ao
arrepio do seu comportamento habitual que soam a encenação mediática de
segunda. Durante três anos, apregoou a importância do crescimento sem nunca
explicar como fazer, prometeu não aumentar impostos mas ninguém acreditou,
rodeou-se de colaboradores cinzentos de que não conseguimos fixar um nome. No
limite, parece alguém a quem se pediu para desempenhar o papel de protagonista
numa peça de prestígio, mas que se mostra apenas capaz de ser actor secundário
num teatro de província.
Costa não é o salvador. Estamos
todos fartos de homens providenciais, que apareceram, em diversos momentos da
nossa história, para nos salvar do abismo. O seu triunfo dependerá de programas
concretos, de alianças anunciadas e honradas, da sua capacidade de transformar
o PS — e a sua terrível burocracia partidária — numa organização que nos
entusiasme a apoiar. O seu êxito será possível se nos explicar como pode
governar de modo diferente da actual coligação do poder. Vencerá as primárias
se souber contornar todas as armadilhas que lhe vão pôr no caminho, a começar
pela data de 28 de Setembro, escolhida para dar tempo a um estrebuchar final do
“aparelho” pretensamente fiel a Seguro. O tempo que falta pode desgastar a sua
imagem e enfraquecer a força da sua proposta inovadora, por isso é importante
dosear as mensagens, baixar as expectativas, manter viva a renovada esperança.
Com uma certeza: se António Costa
vencer no partido, ganhará no país. Todos sabemos isso»