A crónica da semana:
Empobrecemos e embrutecemos
Esta semana, em Portugal, uma
tempestade deixou sem eletricidade um milhão de casas. Dez dias depois, ainda
havia aldeias à espera que a luz voltasse a brilhar nas lâmpadas. Porquê?
Esta semana, em Portugal, um
choque entre dois comboios na Linha do Norte, a mais frequentada e a mais
vigiada do País, contabilizou duas dezenas de feridos. O milagre das vidas
incrivelmente poupadas, por entre os escombros das composições saídas dos
carris, esconde a inquietação de um travão de emergência que não funcionou.
Porquê?
Esta semana, em Portugal, uma
associação de juízes e o Conselho Superior de Magistratura, a nata das natas na
Justiça, vieram, sem pudor, em defesa pública da sentença de um colega que
mandou retirar filhos a uma mãe. Sob a decisão pende ainda um recurso, em
apreciação no Tribunal Constitucional. Houve, portanto, mais um ato de pressão
sobre os senhores que trabalham no Palácio Raton. Porquê?
Esta semana, uma viatura da PSP
que transportava, rápida, três detidos algemados atropelou um homem, por acaso
pai do cantor Paulo Gonzo. O carro policial ia acelerado, sirene aos berros.
Porquê?
Esta semana, em Portugal, um
autocarro despistou-se na Sertã. Morreram 11 pessoas. Só havia alguns cintos de
segurança. Porquê? As obras eternizadas no IC8 e os estragos do piso estão
apontados como suspeitos para causas do acidente. Repito: porquê?
Esta semana, um nevão pouco mais
do que envergonhado deixou 30 mil crianças sem aulas no Norte de Portugal?
Porquê?
E uma cidadã portuguesa, colocada
entre a vida e a morte num hospital do Dubai, quis regressar a casa. O
passaporte foi-lhe confiscado como meio de garantia de devolução de nove mil
euros que o Estado adiantou em despesas de saúde e transporte. Porquê?
Olho para as notícias deste Portugal
do século XXI e vejo um país de um século passado. Vejo um país onde a
desgraça, a má sorte, a fatalidade, o destino, a pesporrência e o
corporativismo modelam o empobrecimento geral.
É a pobreza que tira meios para
defesa contra catástrofes naturais; é a pobreza que sacrifica manutenções
básicas de máquinas essenciais; é a pobreza que leva a grandeza de espírito e o
sentido de Estado a quem representa esse mesmo Estado; é a pobreza que cria
ataques de frenesim autoritário; é a patética pobreza que poupa em cintos de
segurança ou cancela obras a meio; é a pobreza que cria a mesquinhez e a
avareza.
O País está a empobrecer, sim.
Mas, mais do que isso, o País está a embrutecer. Porquê? Porquê!?
(Pedro Tadeu
DN 29/Jan/2013)