A São tem razão: temos é de voltar às canções de intervenção! Que diabo! Nunca pensei!
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
domingo, 29 de dezembro de 2013
Em final de ano
Em final de ano velho e no limiar
de mais um ano bebé, eu bem queria poder escrever sobre as coisas bonitas e
boas que aconteceram; bem queria pôr aqui músicas daquelas que (me) enchem o
coração – La Mer; Je ne regrette rien; Il faut savoir; She (ui!!); These arms
of mine; Do you want to know a secret?; Crazy (ui! Ui!); The Closest Thing to
Crazy… etc. etc.; bem queria pôr aqui belos poemas de amor e de lamechice… Mas
não posso.
Como pode alguém pensar em música
e poesia e arcos-íris depois de sabermos que este “governo” – eleito! como diz
a nossa amiga blogger São – vai distribuir benesses pelos hospitais
que menos medicamentos receitarem e penalizar os que receitarem de mais?
Como se pode falar em rosas e
violetas, quando ficámos a saber que a Linha Saúde 24 vai dispensar 20% dos seus
incansáveis efetivos e substituir os enfermeiros mais experientes por outros que
lhes ficam mais baratos?
Sabemos desde a campanha eleitoral
que o lema desta «gente da sôfrega ida ao pote» era, falaciosamente (aliás como
tudo foi falácia, embuste e mentira naquela campanha eleitoral), «fazer mais com
menos», por isso… nada de novo!
Tenho para mim (e eu raramente me
engano…) que mais uns meses e serão oferecidos benefícios às unidades de saúde
que mais óbitos assinarem, que isso vai constituir enorme poupança na despesa
pública. É por isso que não posso, não consigo deixar aqui musiquinhas e frases lamechas de
final de ano!
sábado, 28 de dezembro de 2013
Acorda, povo!
Para um povo que aguentou, de cabeça baixa, 48 longos anos de ditadura abençoada pela Igreja e que ainda hoje suspira por esse tempo, não chegam as manifestações que se têm feito um pouco por todo o lado, nem as críticas à destruição do país nas redes sociais e nos fóruns - que a comunicação social está, de um modo geral, submetida ao poder - nem os dilacerantes testemunhos de quem tudo perde diariamente e passa fome, nem os suicídios (de igual modo calados pela comunicação social), nem o desesperado movimento hemorrágico («Diáspora» chama-lhe aquele senhor metido a presidente, sem saber muito bem o que diz) da juventude qualificada para outros países que lhes abrem as portas e os braços, para abrir os olhos e perceber que é preciso agir!
Mesmo assim - ou talvez por isso - é preciso continuar a mostrar por palavras simples e por números, o buraco, a lama em que este "governo", esta "maioria" e este "presidente" nos estão a atolar. E porque há quem o faça muito melhor que eu, transcrevo a crónica da Câncio no DN de ontem.
Vale a pena ler. Há que acordar Portugal!
Passos natais passados
Em 2010, na oposição, Passos
garante que, devido à crise, lá em casa só haverá presente para "a mais
nova". "Foi um ano muito duro", diz no vídeo de Natal.
"Pelo desemprego, pelo aumento dos impostos, na redução dos salários, na quebra
do investimento. Enfim, é um período de grande tensão e de incertezas tanto
para os mais jovens como para os menos jovens." Com o IVA a aumentar um
ponto percentual nos três escalões e o IRS a subir para todos com um novo
escalão de 45% acima dos 150 mil euros, o ano fecha com desemprego de 10,8%,
dívida pública de 92,4%, e PIB a crescer 1,9%.
2011: mensagem natalícia é já de
PM. O que cortou meio subsídio a toda a gente e anuncia que em 2012
funcionários públicos e pensionistas ficarão sem os dois (Natal e férias).
Medidas que não estavam nem no memorando nem no seu programa eleitoral, mas não
o impedem de falar de confiança: "É um ativo público, um capital
invisível, um bem comum determinante para o desenvolvimento social, para a
coesão e para a equidade. São os laços de confiança que formam a rede que nos
segura a todos na mesma sociedade. Um dos objetivos prioritários do programa de
reforma estrutural do governo consiste precisamente na recuperação e no
fortalecimento da confiança." Ano fecha com défice de 4,2% (abaixo do
previsto), dívida pública 107,2%, desemprego 12,7%. PIB contrai 1,6%.
2012 é o ano do anúncio do
aumento da TSU para trabalhadores, que cairá pela contestação, e do
"enorme aumento de impostos" para 2013, depois do IVA no máximo para
a restauração, eletricidade e gás. Se desemprego alcança 15,7%, respetivo
subsídio é reduzido em duração e valor, como indemnizações por despedimento.
RSI e Complemento Solidário para idosos sofrem cortes. Tudo ao contrário da
mensagem natalícia do PM, que exorta "todos [a] fazer um pouco mais para
ajudar quem mais sofre, quem perdeu o emprego" e a celebrar os 120 mil
lugares vazios dos emigrantes: "Esta quadra natalícia será um momento
especial para recordarmos aqueles que estão mais longe, ou aqueles que se
afastaram de nós no último ano." Tanto sacrifício para défice subir aos
6,4%, muito acima do acordado, dívida pública atingir 124,1% e PIB contrair
3,2%.
2013, e eis Passos redentor:
"Começámos a vergar a dívida externa e pública que tanto tem assombrado a
nossa vida coletiva. Fizemos nestes anos progressos muito importantes na
redução do défice orçamental, e não fomos mais longe porque precisámos dos
recursos para garantir os apoios sociais e a ajuda aos desempregados." De
facto: num ano cortou-se CSI a 4818 idosos pobres e no OE 2014 vêm mais cortes,
também no RSI e ação social. Prevê-se 17,4% de desemprego, com o de longa
duração e jovem a aumentar (por mais que o PM jure que se criaram 120 mil
empregos). Dívida vai a 127,8%, PIB contrai 1,5% e défice deverá ficar em 5,9%,
1,4 pontos acima do acordado em 2012. Mas o Pedro vê cenas. Este ano, às
tantas, até houve presentes para todos lá em casa.
(Fernanda Câncio, DN/ 27/Dez/2013)
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
O gira-discos
Lá naquela escola onde trabalhei
uma vida (quase) inteira havia, no tempo em que ainda se podia fumar dentro das
escolas, duas salas de professores contíguas: a da fundação, maior e bem mobilada
para os não fumadores e uma outra, atamancada à pressa e por falta de espaço,
tipo marquise, de menor dimensão e “categoria” para os fumadores. Curiosamente
era nesta que se reuniam os professores mais novos e onde o pessoal ria e se
divertia porque os mais antigos na escola e quem precisava de estar sossegado e
trabalhar, recolhia-se na original. Dividia-as uma porta.
Ora um dia apareceu, nessa porta,
um cartaz muito engraçado com dinossauros e com o título de «Parque Jurássico».
Desde então, a sala para os não fumadores passou a ser chamada sempre pelo
Jurássico.
Foi assim que me senti hoje:
pertencente e tratada como se pertencesse ao Jurássico.
Eu conto. A aparelhagem cá de
casa – jurássica, claro! com rádio,
leitor de CD e de cassetes e com gira-discos e tudo – avariou. Irrevogavelmente. (onde é que já ouvi
isto?!) E hoje foi dia de ir à procura de um novo aparelho de som. Como já não
existem aquelas lojas “da nossa confiança” porque fecharam todas, lá tive de ir
às FNAC(s) e às Worten(s) onde apenas encontrei aparelhos hi-tech de várias marcas e de vários preços mas apenas com rádio e
leitor de CD(s). Como não prescindo de ouvir os meus imensos discos de vinil,
decidi procurar um funcionário para perguntar se havia aparelhos com
gira-discos. Dirigi-me a um lugar que pomposamente tinha o nome de «Balcão de Atendimento» onde estava uma jovem
menina muito simpática e muito bem pintadinha e a quem fiz a minha modesta pergunta.
Quando falei em gira-discos, vi a carinha da menina transformar-se num enorme
ponto de interrogação. Aí, e ainda sem usar de ironia, disse: «Estou a ver que
a menina é jovem de mais para saber o que é um gira-discos…» mas então, com o meu
melhor poder de mímica, expliquei por palavras e por gestos o que era um
gira-discos. Ora a menina, depois de olhar enigmaticamente para o teto e de
remexer nas suas (breves) memórias mais remotas, exclamou: «Ah! O meu pai tinha uma
coisa dessas lá em casa! Para ouvir uns CD(s) assim muito grandes!...» «Discos…»,
atalhei eu. «Sim, mas eu chamo-lhes CD(s)», continuou a menina já cheia de uma bonomia simpática por mim… E concluiu: «Pois, aqui não. Não temos… Talvez se tentar nas
lojas de antiguidades…» Eu já estava a ficar um bocado cansada (e irritada) com
a ignorância da menina do balcão de atendimento, mas com o máximo de
assertividade (americanices que entraram na nossa vida quotidiana mercê dos
cursos em gestão…) que consegui reunir, retorqui com um sorriso forçado: «Está
a chamar-me velha?!» Que não, disse a menina sorrindo muito. Mas ficou na dela:
certa da minha idade por de mais avançada e sem ideia nenhuma da sua extrema
ignorância. Mais para uma menina que está num balcão de atendimento de uma loja
de nome nacional.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Piove, piove!
E porque o Inverno «deu em chuvoso», quem é capaz de se lembrar desta cançãozinha (tinha eu onze anos...) que tanto falava de chuva?
E desta sobre a neve, quem se lembra?
Amigos, lembrei-me apenas! Para cortar com o Natal. Nada de revivalismos!
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terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Chove!
Hoje é mesmo assim! Chove muito, muito e é Natal!
Dia de (re)lembrar o nosso poeta maior da modernidade quando dizia:
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
(Fernando Pessoa, in
Cancioneiro)
Cuidado com o temporal: Boa Consoada!
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Oh Happy Day!
Face à realidade que infelizmente vivemos, bem que dá
vontade de relembrar como o poeta (mal-amado) descreve o Natal...
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?
(Natal de 1971, Jorge de Sena)
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?
(Natal de 1971, Jorge de Sena)
Mas o que realmente quero desejar a todos os amigos ue aqui passam é um Happy Day! Assim;
A very, very Happy Day!!
domingo, 22 de dezembro de 2013
Em nossa defesa
Mais do que a mentira, a
hipocrisia, a estupidez e até a própria vaidade, é a arrogância – defeito muito
português – que mais me incomoda.
A incapacidade que temos em ouvir
os outros falando até por cima deles; a facilidade e a insensatez com que nos
pomos a discutir e a opinar sobre qualquer matéria ou assunto desde o futebol
até à semiótica com a certeza absoluta do que afirmamos; a forma como altivamente
olhamos para os outros de cima para baixo e lhes avaliamos e criticamos o
comportamento; a ausência de humildade enfim confrange-me.
Lembro-me de ter já abordado este
assunto neste espaço, mas não me canso de a ele voltar e de, a propósito,
voltar a nomear o filme Dogville que tão bem trata a temática da arrogância vs.
humildade.
E, falando sobre a nossa (dos portugueses)
sabida arrogância com as minhas filhas – que não me poupam os elogios – logo diz
uma delas: «Ó mãe, mas olha que tu muitas vezes também és bem arrogante em
certas posições que tomas!» «E quem o não é de vez em quando?» - contestei, algo contristada.
Fiquei a pensar na crítica e
concluí em minha/nossa defesa que, muitas vezes, a arrogância é uma forma de encobrir
as nossas fragilidades. Indesculpável, porém.
sábado, 21 de dezembro de 2013
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Árvores de Natal
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Ao musgo
(A caminho de Monserrate) |
Era por este e por outros caminhos igualmente belos como este que, nos idos de 60, mal terminavam as aulas, o nosso habitual grupo de rapazes e raparigas da Vila munidos de cestas e de facas, se lançava na difícil mas super-divertida tarefa de ir ao musgo para o presépio.
A serra é, como sabem, verdejante, sombria e húmida mais do que suficiente para cobrir muros, pedras e caminhos com musgosos tapetes altos de fofos que faziam as nossas delícias.
Frio de rachar, humidade que chegava aos ossos, chuva muitas vezes, que Sintra era como Londres. Mas o gozo era o passeio, a brincadeira, a risota, a zombaria. A beleza estonteante da paisagem nem era por nós notada porque era a habitual de todos os dias. Com as mãos enregeladas e com a perícia de quem corta escalopes, metíamos as facas por baixo do musgo e cortávamos cuidadosamente longas pastas verdes que, no dia seguinte, iríamos dispor no canto da sala onde o presépio caseiro iria nascer.
Serra dentro, a noite começava a esboçar-se aí pelas quatro e meia da tarde. A essa hora, porém, saídos para o nosso passeio apenas depois do almoço, a tarefa que nos movia não estaria nem sequer a meio. Além de que os caminhos eram infindáveis e a nossa vivacidade não nos aconselhava a voltar tão cedo para trás. «Vamos só até àquela curva!» «Não! Até à Fonte dos Amores!» (que não voltei a encontrar quando ultimamente visitei a Serra porque, parece, foi encerrada em propriedade privada)
E, por fim, já quase noite escura, com os cestos bem carregados com as boas das plantas quase molhadas, o regresso em passo de corrida serra abaixo. Quando avistávamos o palacete da Zezinha, já nos sentíamos em casa, mas ainda tínhamos mais uns seis ou sete minutos até ouvirmos a minha mãe a ralhar-nos por nos demorarmos tanto!
Frio de rachar, humidade que chegava aos ossos, chuva muitas vezes, que Sintra era como Londres. Mas o gozo era o passeio, a brincadeira, a risota, a zombaria. A beleza estonteante da paisagem nem era por nós notada porque era a habitual de todos os dias. Com as mãos enregeladas e com a perícia de quem corta escalopes, metíamos as facas por baixo do musgo e cortávamos cuidadosamente longas pastas verdes que, no dia seguinte, iríamos dispor no canto da sala onde o presépio caseiro iria nascer.
Serra dentro, a noite começava a esboçar-se aí pelas quatro e meia da tarde. A essa hora, porém, saídos para o nosso passeio apenas depois do almoço, a tarefa que nos movia não estaria nem sequer a meio. Além de que os caminhos eram infindáveis e a nossa vivacidade não nos aconselhava a voltar tão cedo para trás. «Vamos só até àquela curva!» «Não! Até à Fonte dos Amores!» (que não voltei a encontrar quando ultimamente visitei a Serra porque, parece, foi encerrada em propriedade privada)
E, por fim, já quase noite escura, com os cestos bem carregados com as boas das plantas quase molhadas, o regresso em passo de corrida serra abaixo. Quando avistávamos o palacete da Zezinha, já nos sentíamos em casa, mas ainda tínhamos mais uns seis ou sete minutos até ouvirmos a minha mãe a ralhar-nos por nos demorarmos tanto!
(Casa da Mira Longa) |
No dia seguinte, quase na antevéspera
da noite de Natal, dispunham-se as figurinhas de barro sobre o musgo fresco e
perfumado e enfeitava-se o pinheirinho – que não de plástico – com as bolas de
vidro pintado e as fitas prateadas. O Natal brilhava e rescendia.
Bom Natal!
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
A Praça
É a primeira imagem que recordo
ter da cidade (paravam ali as camionetas): a Praça Rodrigues Lobo. Quadradinha,
amorosa e aconchegante. Pela mão da minha mãe. Calor de morrer e sombra debaixo
das arcadas desenhadas a lápis de carvão. Sob a sua alçada, as mulheres,
vestidas de negro e com um chapelinho redondo sobre o lenço, agachavam-se sobre
cestos de vime redondos e sacas de chita vendendo feijão e grão. Calor de
morrer mesmo no meu vestidinho de popelina sem mangas. Senti-me levada não sei
por que mãos para essa sombra e só acordei num café por ali. O calor foi de
mais para mim. Verão quente – em Leiria é sempre muito quente o Verão – de um
qualquer ano de 50. Teria os meus sete anos, sei lá. Mas linda, a Praça com
aquele castelo sobranceiro a espreitar lá no alto, nunca mais me saiu da
imagem. E aqueles chapelinhos redondos de feltro preto na cabeça das mulheres
também me encantaram. Desconhecidos para mim.
Mal sabia eu que haveria de aqui
passar muito mais de metade da minha vida. Com aquele castelo empoleirado a enfeitiçar-nos.
Quando vim, em 74, um dos prazeres
que cortava a tristeza de ter deixado a minha terra do coração, era quando a
minha mãe vinha cá passar as férias escolares e íamos até à Praça beber um chá
com torradas num daqueles cafés por debaixo das arcadas. Talvez o mesmo onde
acordei do desmaio. Mas nunca mais no Verão. Esse prazer cumpria-se mais nas
férias de Natal, com frio, depois de nos movermos cúmplices pelas lojinhas
envolventes. Já sem as mulheres de preto agachadas sobre as ceiras e os sacos
de pano e sem os chapelinhos redondos de feltro (ou de cotim) preto.
Ontem permiti-me repetir esse
prazer. Sozinha. No mesmo café, mas modernizado. As arcadas desenhadas a lápis são
as mesmas: acolhedoras, medievais. No lugar das mulheres agachadas sobre os
cestos e com os seus chapelinhos redondos sobre o lenço alastram esplanadas com
largos chapéus-de-sol a derramarem sombra para os quentes dias de Verão. A estátua
saiu do centro da Praça e foi arrumada a um canto, (diz que porque se usa assim
nas grandes praças europeias) as lojinhas desapareceram mas o aconchego das
arcadas continua a fazer-se sentir. E o castelo permanece jovem, sobranceiro e
belo a olhar-nos do alto da velha colina-vulcão que ali por trás se eleva.
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Presépios
(Lamento não ter conseguido apanhá-lo todo numa só fotografia, mas estava numa enorme montra)
Poderão apreciar mais estes outros que trouxe de uma exposição sobre Machado de Castro.
Presépio da Basílica da Estrela |
Presépio do Palácio das Necessidades |
Bom Natal!
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Incomodou-me!
Incomodou-me! Pois como poderia não
incomodar? Logo após o telejornal, um programa de propaganda à associação Missão
Sorriso em que um chefe de família desempregado há mais de três anos falava
desassombradamente da ausência de comida em casa, do frigorífico vazio, da
única refeição que faziam que normalmente era arroz, ou massa, ou uma lata de
salsichas, de como o filho não tinha leite para beber antes de sair de casa.
Uma dor de coração ouvir isto de cidadãos
como eu. Um remorso intenso por os meus gatos comerem melhor que muitas
pessoas, cidadãos como eu. Uma vergonha indizível por, aqui e agora, se estar a
passar pelo mesmo a que assisti nos idos anos de 50 e 60.
No fim do programa, o elogio ao
trabalho meritório – meritório, claro! –
da organização e dos voluntários. Mas porquê estes programas? Para nos
mostrarem que fomos cigarras e esbanjámos, «vivemos acima das nossas
possibilidades» - que náusea! – e que agora temos de sofrer o castigo adequado? Ou tão simplesmente
para mostrar às pessoas em necessidade e sofrimento que o melhor que têm a
fazer é recorrerem à caridade? E onde fica o “governo” no meio de tudo isto?
Qual é o seu papel? Empurrar as pessoas para a emigração, para a caridade, para
o degredo?
Incomodou-me! Mesmo!
E, a fechar, em jeito de final
feliz, passaram a belíssima canção Smile
pelo Nat King Cole. Bem sei que quiseram fazer a analogia da Missão Sorriso
com a canção que aconselha a sorrirmos mesmo quando o coração nos dói, mas
situações como a que aquele senhor descreveu podem dar para tudo menos para
sorrir!
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domingo, 15 de dezembro de 2013
Peter O'Toole
Morreu hoje, aos 81 anos, o ator de cinema com os olhos azuis mais bonitos, mais brilhantes e expressivos do cinema anglo-saxónico e um dos meus preferidos.
A sua obra-prima, o filme por que ficou mais conhecido foi Lawrence da Arábia que passou no Tivoli nos anos 60 e dizia-se que eram três horas de filme passadas no deserto e que as pessoas saíam no intervalo e só pediam água... Disparates de uma população pouco culta e mais ou menos ignorante.
Por mim, adorei o filme e acho que fiquei "apaixonada" pelo homem... Depois vi vários filmes com ele, mas aquele de que mais gostei foi O Leão de Inverno em que o Peter O'Toole representava o rei Henrique II de Inglaterra e contracenava com a magnífica Katherin Hepburn.
Também o vi em Becket, What's new, pussycat?, Como roubar um milhão, Lord Jim, Good-bye, Mr Chips, A Noite dos Generais, Sherlock Holmes, O Último Imperador, e outros de que já não me lembro.
Mas... não vim aqui falar dos filmes que vi, mas quase tão-somente para relembrara sua elegância, a sua finura de gentleman e os seus belos olhos azuis.
(The Lion in Winter) |
(Com a minha querida Audrey Hepburn) |
(Com a lindíssima Elizabeth Taylor) |
E mesmo já com alguma idade, continuava a ter aquele contorno de finesse que sempre conseguiu transmitir.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Cai neve em NY...
Se a minha avó espanhola fosse viva, lá teria de repetir aquela sua máxima «Es la fin del mundo!» de cada vez que acontecia algo que estivesse para além do seu entendimento ou da sua longa experiência de vida.
Assim estou eu! Isto é o fim do mundo! Pois não é que nevou no Egipto e em Jerusalém?!
Nunca as Pirâmides se viram pintadinhas de branco...
Nem os camelos pisaram areias tão frias...
E em Jerusalém...
E o título da entrada de hoje?!
Não tem nada a ver... Lembrei-me da canção do Cid...
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Versões
Recebi esta versão de um amigo amante da boa música com o apontamento de ser uma das canções mais belas alguma vez escritas.
Talvez não concorde em absoluto, mas é, de facto, uma muito bela canção.
Mas eu continuo a preferir a versão original na voz inconfundível do extraordinário Otis Redding.
Bom fim de semana!
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Já escreveram ao Pai Natal?
Já escreveram ao Pai Natal?
E que lhe pediram (ou pediriam)?
Eu queria muito pedir-lhe um novo governo e um novo presidente - nem que fosse o meu gato ...Tudo seria melhor que estes laranjas apodrecidos que lá estão!
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Nadir Afonso (1920 - 2013)
Uma semana depois de ter completado 93 anos, morreu hoje o pintor
Nadir Afonso. Formado em arquitetura,
viveu em França vários anos.Mais tarde (1951-54)
viveu no Brasil, trabalhando com o arquiteto Niemeyer.
Além da obra plástica, publicou
inúmeros livros, entre eles La Sensibilit Plastique (1958), Les
Mécanismes de la Création Artistique(1970), O Sentido da Arte (1999)
e O Trabalho Artístico. Reflexões(2011).
O abstracionismo geométrico é a
sua imagem de marca. Obras suas foram expostas em França, Suíça, Espanha,
Itália e no Brasil. (retirado daqui)
Em jeito de homenagem deixo aqui algumas das suas obras.
Os Portugueses |
Da Ocidental Praia Lusitana |
O Galo |
O Rapto da Europa |
Évora |
Godesses in the Wind |
Para ver mais obras e saber mais sobre o pintor visitar espacillimite.blogs.sapo.pt
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