Há muito que assim penso, mas tive alguma contenção em divulgá-lo. Sempre me contrariou o facto dos Estados ocidentais , nomeadamente os Estados Unidos, intervirem, em nome da democracia, nos Estados, especialmente, os do Médio Oriente de governação ditatorial.
É certo que as ditaduras são formas de governar contra o povo e que apenas favorecem quem governa e os seus apaniguados e, de um modo geral, os ditadores mantêm-se à frente dos países por tempo indeterminado, se possível, de forma vitalícia, tornando-se, à medida que o tempo passa, cada vez mais desumanos e mais violentos. Naturalmente que o ideal seria – em termos utópicos – que houvesse um regulador mundial que estabelecesse o bem comum entre todos os povos e que tivesse o poder de sanar estes como outros problemas. Mas isto é a utopia! Ninguém disse, ninguém investiu os Estados Unidos, ou a ONU, ou a Comunidade Europeia desse fim. E, quando o fazem, parece-me que não o fazem de forma gratuita, muito embora evoquem razões humanitárias e de restabelecimento do bem comum.
Veja-se o caso do Afeganistão. Os europeus e os americanos foram para lá cheios de “boa vontade” para tirarem de lá o ditador que oprimia o povo e lhes sugava as riquezas. Puseram o país a ferro e fogo com aquelas suspeitas sem fundamento de que aquele país era um perigo para o ocidente. Mataram, partiram, destruíram, arrasaram, lá “assassinaram” o ditador e depois? O povo ficou mais livre, mais rico, mais feliz? Nem por sombras.
Depois foram as chamadas “primaveras árabes”. Agitaram-se os povos, deu-se-lhes esperanças de uma vida em democracia, desorganizaram-se-lhes as estruturas por muito básicas que fossem, tudo com o aval (hipócrita) do ocidente. E depois? O que ganharam depois destas revoluções assistidas? Guerra pelo poder, miséria, desalento, sangue, suor e lágrimas. Ficaram mais felizes, mais ricos, mais livres? Duvido.
Não estou aqui a advogar pelas ditaduras permanentes, pelos ditadores vitalícios que submetem e devoram o povo. Só que tudo tem o seu tempo e há que passar pelas etapas todas, ou pelo menos por algumas, para se poder evoluir aprendendo. Também os europeus levaram séculos – uns mais que outros – para ultrapassar o absolutismo dos reis e as ditaduras do século XX. Se dizem que os árabes ainda estão na Idade Média – uns estarão (os pobres), outros não (os ricos que vêm estudar para Londres ou para NY) – como querem que em alguns meses se vá lá “ensinar-lhes” o exercício da democracia, enquanto se lhes destroi a vida, os anseios, as terras, as cidades?
Teríamos nós, Portugueses, gostado que, apesar de tudo, no tempo quase interminável da ditadura salazarista tivessem vindo para aí exércitos de americanos ou outros fazer a guerra, destruir o país, quebrar-nos as esperanças, só para tirarem de lá o ditador?
Para aprendermos e estarmos preparados para novas situações, como é o caso da vida verdadeiramente democrática, há que ultrapassar vivendo cada momento nem que para isso tenhamos de quebrar a cara. Como poderíamos nós, portugueses, implantar aqui e agora o sistema de educação da Suécia, por exemplo, se em termos de instrução básica eles têm cem anos de avanço sobre nós?
Por isso não aceito conselhos nem acredito em lições de vida.