segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

31 de Janeiro: a República no Porto






“Faz hoje 120 anos que a cidade do Porto foi palco da primeira revolta republicana em Portugal. Em plena ressaca do Ultimato Inglês de 1890, o Partido Republicano Português reuniu o seu congresso na Invicta, a 1 de Janeiro de 1891. Num clima de patriotismo exacerbado pela demonstração de força contra as pretensões portuguesas em África e de contestação da monarquia, as proclamações dos chefes republicanos encontraram eco em activistas portuenses – que acabaram por ultrapassar as intenções dos líderes. Na madrugada de 31 de Janeiro, um grupo de sargentos Caçadores 9 conduziu o batalhão à actual Praça da República, então Campo de Santo Ovídeo (onde setenta anos antes começara a revolução liberal de 1820), junto ao quartel de Infantaria 18, reforçados por outros militares comandados pelo alferes Malheiro e o tenente Coelho. Não conseguindo fazer sair a infantaria 18, os revoltosos desceram à Praça de D. Pedro (actual Praça da Liberdade) e aí aclamaram Alves da Veiga, que proclamou a República nos Paços do Concelho, sendo hasteada uma bandeira verde e vermelha.

De seguida, militares e civis subiram a Rua de Santo António (hoje Rua 31 de Janeiro) para tomarem a estação dos correios – mas foram dispersados pelo fogo da Guarda Municipal. Cerca de três centenas de revoltosos entrincheiraram-se na câmara municipal, cercados por tropas fieis ao governo. Às dez da manhã renderam-se os últimos resistentes.

O “31 de Janeiro” saldou-se por 12 mortos e quarenta feridos. Os insurrectos capturados foram julgados em navios ao largo de Matosinhos. Perto de 250 foram condenados a penas de degredo em África mas, dois anos depois, eram quase todos amnistiados. A República esperou ainda mais duas décadas.” J.F.

(in NS 29/Janeiro/2011, adaptado)


domingo, 30 de janeiro de 2011

47 anos depois


Vejam como eles se apresentaram em 25 de Janeiro de 1964. Com piano e saxofone e tudo! Foi lá na Sociedade União Sintrense, mesmo ali no sopé da Serra verdejante, fria, húmida, bela. Deram-se o pomposo nome de Diamantes Negros - vá-se lá saber porquê... Eram tão novinhos! Tocaram Quand viens la fin de l'étè, Shadows, Cliff e Beatles, claro! Com muitas hesitações, mas com muito entusiasmo.



 (gostámos...)


(foto para as fãs...)



(e esta, que bem enquadrada!)


(num Baile das Camélias, no tempo do yé-yé...)



(depois, num instante, passaram 40 anos)

E ontem, lá voltaram à Sociedade. À mesma que os acolheu há 47 anos. Com muita gente a assistir e a acompanhar e a fruir. Só que tocaram melhor. Muito melhor! Aliás, foi uma verdadeira surpresa - tocaram  muito bem! Estavam mesmo imparáveis! E com incursões pela música mais actual, mais hard...

(O apresentador foi o mesmo de há 47 anos atrás)




(Os artistas eram os mesmo e tocaram com vivacidade e vigor-
qual idade, qual quê?)



(Foi uma noite de sucesso e tiveram direito a chuva de papelinhos...)


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Vergílio Ferreira faria hoje 95 anos





1-Fevereiro (sábado). Fiz cinquenta e três anos há dias. Como é obvio, não acredito. Mas enfim, é a opinião do Registo Civil. Acabou-se, fiz cinquenta e três anos. É aliás uma idade inverosímil a minha, desde os cinquenta. A “vergonha” da idade (que não tenho) deve vir daí. E lembrei-me: e se eu tentasse uma vez mais o registo diário do que me foi afectando? Admiro os que o conseguiram, desde a juventude. Nunca fui capaz. Creio que por pudor, digamos, falta de coragem. Um romance é um biombo: a gente despe-se por detrás. Isto não. Mesmo que não falemos de nós (é-me difícil falar de mim). Aliás como os outros, desconheço-me. Talvez, também porque me evito. A verdade é que, quando me encontro bem pela frente, reconheço-me intragável. Mas enfim as virtudes são também desgostantes. De resto, sou pouco abonado. Segundo a Regina, as virtudes que tenho têm mesmo raízes viciosas: tolerância por fraqueza, interesse pela arte, por vaidade e coisas assim. Não digo que aconteça isso com todas as ditas virtudes; mas com algumas deve ser verdade. Chega. O meu “diário” está nas centenas de cartas aos amigos. Lembro as ao Lima de Freitas. L. Albuquerque, Costa Marques, Mário Sacramento, Eduardo Lourenço, alguns mais. Em todo o caso, essas mesmas, falsas. Excepto talvez quando sobre coisas “sérias”. E ainda aí há quase sempre um disfarce ou o tempero do gracejo. Serei agora capaz? Tento. Seguro-me ao argumento de que me dá prazer ler os registos dos outros. Lêem-se sempre com curiosidade. Um motivo para insistir – satisfazer a curiosidade dos outros. Mas terei eu “outros”?

Vergílio Ferreira, “Conta-Corrente 1”, 1969

Vergílio Ferreira, escritor das minhas preferências,  faria hoje 95 anos. Nasceu em 28 de Janeiro de 1916 e morreu em 1 de Março de 1996, com oitenta anos de idade. Transcrevo aqui a primeira entrada do seu diário - Conta-Corrente - que manteve entre 1969 e 1992 e que eu segui com muito gosto.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Neve e mais neve



Sempre ouvi dizer que os diabos têm muita sorte... Tirando um nevão que apanhei numa visita de estudo com alunos do antigo 5º ano, actual 9º, à Serra da Estrela num mês de Março dos idos de 70 e umas farripas de neve noutro passeio a Andorra e um inesperado nevão que me apanhou no Expresso de Lisboa para Leiria em Janeiro de há cinco anos, posso dizer que não sou muito versada em neve. O meu marido esse então ainda menos! Trabalhou ano e meio em Trás-os-Montes e andou outro tanto tempo pela Serra da Estrela e, se bem que tenha visto neve, nunca tinha visto nevar. De modo que, imaginem como íamos desejosos de que nos nevasse em cima!

Agora imagine-se a excitação quando no nosso primeiro dia depois da nossa chegada a Berna, vemos, logo ao pequeno almoço, começarem a cair primeiro uns pontinhos brancos, depois uns pedacinhos de algodão que foram engrossando até fazerem fortes fios de linho por dobar!


O passeio previsto para esse dia não podia ter sido mais bem escolhido – Grindelwald, a zona onde se encontra o Jungfrau, o ponto mais alto da Europa, a 4158 metro de altitude. Não deu para lá subir porque estava muita neve e não se poderia ver nada. Mas deu para andarmos por lá a ver as aldeiazinhas com os chalets suíços (como cá eram chamados nos anos 50) todos construídos em madeira perdidos no meio das montanhas; deu para nos embrenharmos nos montes e irmos, depois de algumas escorregadelas valentes, até a um antigo glaciar.



(mapa de Grindelwald)

 
Pelo caminho fomos apreciando as pequenas cidades de Thun, cidade medieval à beira-lago e Interlaken – assim chamada por estar entre os lagos Thunersee e Brinzersee. Subimos a Mürren e a Männlichen. Um encanto!


(admirando as torres do castelo medieval de Thun)










(esculpindo no gelo)



(quem disse que estava frio?)



(depois de algumas escorregadelas e de muita risota)

 














Poderia continuar a pôr aqui fotos e fotos das neves suíças! Hei-de voltar ao mesmo tema.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

De regresso



Depois de seis dias muito bem passados por terras alpinas, algumas - poucas -  imagens dos passeios que demos pelo cantão de Berna. É que tirámos tantas fotografias que ainda não deu tempo para as ver e organizar.

Tivemos muita sorte com o tempo: no primeiro dia depois da nossa chegada, começou a nevar e, aos poucos, a neve foi engrossando até tudo ficar coberto de branco. Cinco graus negativos e alguns escorregões pelos montes. Depois dois dias de sol que doirou os picos branquinhos. E, finalmente, no último dia, mais neve para se despedir de nós.











terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vou à Suiça!





Durante uns dias não vou andar por estas paragens. Vamos dar uma escapadinha até Berna para ver a neve nos Alpes. Espero sinceramente que os meus amigos fiquem bem.
Na próxima semana, lá para 4ª feira, estarei de volta. Até lá deixo aqui para todos




E lembrem-se!





segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

História de Portugal condensada...



Sabem daquela  peça de teatro engraçadíssima que se chama "As Obras Completas de Shakespeare em 97 minutos" que está em cena há 15 anos? Se ainda não foram ver, vão porque vale a pena. Acho que ainda está em cena no Teatro-Estúdio Mário Viegas, em Lisboa (claro!) É de morrer a rir! Eu (como sou muito viajada...) tive a sorte de a ver em Londres e foi uma emoção!

Pois encontrei uma História de Portugal contada em muito menos do que 97 minutos que também tem muita graça. Deixo-a aqui para se rirem um bocado.


Tudo começou com um tal Henriques que não se dava bem com a mãe e acabou por se vingar na pandilha de mauritanos que vivia do outro lado do Tejo.

Para piorar ainda mais as coisas, decidiu casar com uma espanhola qualquer e não teve muito tempo para lhe desfrutar do salero porque a tipa apanhou uma camada de peste negra e morreu.

Pouco tempo depois, o fulano, que por acaso era rei,bateu também as botas e foi desta para melhor.

Para a coisa não ficar completamente entregue à bicharada, apareceu um tal João que, ajudado por um amigo de longa data que era afoito para a porrada, conseguiu pôr os espanhóis a enformar pão e ainda arranjou uns trocos para comprar uns barcos ao filho que era dado aos desportos náuticos. De tal maneira que decidiu pôr os barcos a render e inaugurou o primeiro cruzeiro marítimo entre Lisboa e o Japão com escalas no Funchal, Salvador, Luanda, Lourenço Marques, Ormuz, Calecute, Malaca, Timor e Macau.

Quando a coisa deu para o torto, ficou nas lonas só com um pacote de pimenta para recordação e resolveu ir afogar as mágoas, provocando a malta de Alcácer-Quibir para uma cena de estalo.

Felizmente, tinha um primo, o Filipe, que não se importou de tomar conta do estaminé até chegar outro João que enriqueceu com o pilim que uma tia lhe mandava do Brasil e acabou por gastar tudo em conventos e aquedutos.

Com conventos a mais e dinheiro menos, as coisas lá se iam aguentando até começar tudo a abanar numa manhã de Novembro.

Muita coisa se partiu. Mas sem gravidade porque, passado pouco tempo, já estava tudo arranjado outra vez, graças a um mânfio chamado Sebastião que tinha jeito para o bricolage e não era mau tipo apesar das perucas um bocado amaricadas.

Foi por essa altura que o Napoleão bateu à porta a perguntar se podia ficar com isto. Levou com os pés dos ingleses que queriam o mesmo.

Outro João tinha dois filhos e queria pôr o Pedro a brincar com o irmão mais novo, o Miguel, mas este teve uma crise de ciúmes e tratou de armar confusão que só acabou quando levou um valente puxão de orelhas do manoque já ia a caminho do Brasil para tratar de uns negócios.

A malta começou a votar mas as coisas não melhoraram grande coisa e foi por isso que um Carlos anafado levou um tiro nos coiratos quando passeava de carroça pelo Terreiro do Paço.

O pessoal assustou-se com o barulho, escondeu-se num buraco e vieram os republicanos que meteram isto numa guerra onde ninguém nos queria.

Na Flandres levámos tiros que fartou disparados por alemães. Ao intervalo, já perdíamos por muitos mas o desafio não chegou ao fim porque uma imagem vestida de branco apareceu a flutuar por cima de uma azinheira e três pastores deram primeiro em doidos, depois em mortos e mais tarde em beatos.

Se não fosse por um velhote das Beiras, a confusão tinha continuado mas, felizmente, não continuou e Angola continuava a ser nossa mesmo que andassem para aí a espalhar boatos.

Comunistas dum camandro!

Tanto insistiram que o velhote se mandou do cadeirão abaixo e houve rebaldaria tamanha que foi preciso pôr um chaimite e um molho cravos em cima do assunto.

Depois parece que houve um Mário qualquer que assinou um papel que nos pôs na Europa e ainda teve tempo para transformar uma lixeira numa exposição mundial e mamar uma seca da Grécia na final do futebol.

E o Cavaco ?

O Cavaco foi com o Pai Natal e o palhaço no comboio ao circo...
 
 

domingo, 16 de janeiro de 2011

Laranjas no Terreiro



(Edifício muito antigo no Terreiro)

O Terreiro é das zonas mais bonitas de Leiria. Juntamente com a Praça Rodrigues Lobo e a parte velha da cidade que fica compreendida entre a Rua Direita e o Castelo fazem, na minha opinião, as maravilhas desta terra.  Pena é que esteja tão abandonada, com prédio em ruínas, alguns dos quais foram já casas senhoriais bem ricas e bem bonitas.

Mas hoje quero apenas mostrar o Terreiro e as suas laranjeiras. Gosto muito de laranjas. Não, não gosto dos "laranjas", mas apenas e tão só de laranjas. De as ver nas árvores - e de as comer também...


(desculpem não ter conseguido ocultar as cadeiras...)


(O Castelo ao fundo)


 (laranjeira carregadinha)



(O Solar dos Athaydes, recém-recuperado e as laranjeiras)


Ora hoje, deu-me para fazer um bolo de laranja e natas  para a sobremesa, mas juro que não fui roubar as laranjas ao Terreiro. Querem ver como ficou bonito? E delicioso!




Vou deixar aqui a receita, que é muito simples, para alguém que, (guloso/a) como eu queira fazer um bolo rápido para o chá...
Misture 4 ovos com uma chávena almoçadeira e meia de açúcar; junte sumo e respa do vidrado de uma laranja; adicione dois pacotes de natas de 200 ml, uma colher de chá de fermento em pó, três chávenas de farinha e quatro colheres de sopa de coco. Mexa muito bem de cada vez que adicionar um ingrediente e quando acrescentar cada uma das chávenas de farinha.

Unte uma forma grande de buraco com margarina e polvilhe com farinha e deite dentro o preparado; leve a cozer em forno médio durante cerca de 40 minutos.

Enjoy...

sábado, 15 de janeiro de 2011

Camélias



Gosto muito de camélias. Só vi camélias quando fui para Sintra, tinha dez anos. E lá havia muitas cameleiras (ou japoneiras, como se dizia à época) brancas, cor-de-rosa, encarnadas, pintalgadas, simples, dobradas - todas lindas.




Quando vim viver para Leiria, trouxe uma cameleira que plantei no meu micro-jardim e que tantas recordações me traz. Do tradicional Baile das Camélias que tinha lugar na Sociedade União Sintrense, lá mesmo perto da minha casa, todos os anos no dia 19 de Março. A Sociedade tinha (e tem) quase a dimensão dos cinemas tradicionais e, para esse evento,  as suas paredes eram completamente forradas com camélias para receber as centenas de pessoas que se apinhavam para dançar e para ouvir os artistas convidados. Lembro-me de uma dessas noites das camélias nos idos de 60 em que foi convidado o Tony de Matos. Ora eu nunca gostei nada de fado e, adolescente vivaça como era em época de Shadows, de Rolling Stones e de Beatles, não tinha paciência nenhuma para estar a ouvir os fadunchos do Tony de Matos ou de outros qualquer. Por isso, tratei de arregimentar um grupinho de amigos e lá nos pusemos, junto ao palco, a imitar e a gozar  o fadista. Imaginam a vergonha que passámos quando o director da Sociedade, o Sr. Magalhães, nos veio dizer que se não nos calássemos nos punha na rua... Nós queríamos era ouvir os Diamantes e o resto era conversa...

(Os Diamantes Negros, Baile das Camélias, 1966)


As camélias são muito delicadas e duram muito pouco tempo na árvore, caindo dois ou três dias depois de florirem.




O chão cobre-se de camélias o que sempre me traz à lembrança a festa de fim de ano do colégio da Parede onde fiz a 4ª classe e que teve lugar ainda nas antigas instalações do Casino do Estoril (1958). Nessa festa eu fazia o papel de uma velha avó que fazia 82 anos e recebia a visita dos seus imensos netos que, à medida que chegavam, presenteavam a avó com uma música ou dança das várias regiões de Portugal. Havia uns netos que recriavam a velha modinha brasileira "Jardineira" que ainda trauteio enquanto apanho as camélias caídas...




sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Da inépcia como virtude




Devo confessar, à puridade, um desejo modesto, porém ardente: gostava de que o Presidente fosse um homem culto, lido, cordial e descontraído. Não o é. E o meu recatado desgosto consiste no facto de ele desencadear, com as deficiências culturais e aleijões de carácter que demonstra, um generalizado reflexo condicionado. Os dez anos que levou de primeiro-ministro constituíram um cerco e o esmagamento das desenvolturas e das exaltações que o 25 de Abril nos tinha proporcionado. O País cedeu ao mito do político severo, austero, hirto e denso. E admitiu, como sua, a imagem brunida que ele expunha. Um chato. Mas um chato perigoso por aquilo que representa.

Nada tenho de pessoal contra o senhor. Ele pertence a uma sociedade velha e relha, que apenas assegura formas de autoritarismo. Estes cinco anos de Presidência acentuaram o infortúnio. Os debates nas televisões foram expressivos do desagrado que algumas intervenções causavam no dr. Cavaco. Trejeitos de ira, econtorções dos músculos faciais, movimento descomedido dos lábios, frases desmedidamente agressivas. A medonha panóplia de exercícios paliativos forneceu-nos a estirpe do indivíduo e a compleição do político.

O pior foi o discurso da quadra. Se o de José Sócrates representou a vacuidade total, o do dr. Cavaco fundamentou a admissão de uma era vindoura de incertezas. Apenas a reiterada advertência de que "eu bem avisei a tempo". O disperso, confuso e absurdo afastamento de responsabilidades que também lhe cabe. Depois, o caso do BPN e da Caixa Geral de Depósitos. Então, as debilidades da natureza moral do candidato emergiram de roldão. Ao acusar de incompetência a administração do banco das fraudes, trucidou alguns dos seus antigos comparsas de Governo, entre os quais o perplexo e honesto Faria de Oliveira. Procedeu como o fizera com Fernando Nogueira, Santana Lopes, Fernando Lima: serviu-se e descartou-se. Perante as acusações de tibieza que lhe foram feitas, o homem, atabalhoadamente, tentou proteger-se usando o pretexto que lhe é comum: disse que não dissera o que tinha dito e acusou os jornalistas de interpretação abusiva. Uma televisão retransmitiu a verdade dos factos e as declarações proferidas. Nem por isso o prevaricador se retractou.

Já cansa repetir que o dr. Cavaco é um incidente desgraçado na nossa história próxima recente. Metáfora de um país sem juízo, também não chega. Ele resulta de uma confusão entre a ignorância e a beatífica admissão de uma cultura de aparências. Surpreende (ou não?) haver gente de envergadura intelectual e moral a apoiar, para reeleição, uma criatura que, por incultura, inépcia e desadequação nunca encontrou a fórmula de viver e de actuar perto das questões e do coração dos portugueses.

Baptista-Bastos


(in DN de 5/Jan/2011)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Here comes the sun!



Hoje foi o primeiro dia de Sol deste ano. Que alegria! Até já deu para ver como os dias já estão maiores. Deu para ir passear pela cidade, para afastar a melancila, para limpar o jardim e, vejam, para o que deu ao meu gato Socas:







 Até o fez sair do sofá! O que é o poder do Sol!

E lembrei-me daquela canção tão bonita "Here comes the Sun" dos meus queridos Beatles! Querem ouvir? 




Nova Exposição de Clotilde Fava




É inaugurada hoje, em Vitória-Gasteiz, no norte de Espanha, uma nova exposição da nossa amiga Clotilde Fava, "Regeneración", cuja temática versa, de novo, as "suas" flores.

É um pouco longe para irmos, mas fica a informação.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ainda a ADD na minha Escola





Como deixei aqui dito no meu texto de 6 de Outubro último, a DREC informou, no passado Setembro, que a actual direcção da minha Escola deveria repetir o processo de avaliação do desempenho docente (ADD) referente a 2007/2009 que tinha sido realizado por mim, enquanto presidente do conselho executivo. Gostaria de ter lido os termos em que o referido despacho foi redigido para, de forma mais lúcida, poder compreender este processo. Mas, infeliz ou felizmente (não sei) decidiram não me dar conhecimento qualquer acerca desta decisão. Eu não tive acesso ao despacho mas, por incrível que pareça, parece-me que mais ninguém teve, na Escola!

De uma ou de outra forma, dois dias depois do Natal, em pleno tempo desta interrupção lectiva, o director divulgou uma ordem de serviços em que informava que tinha decidido proceder às alterações necessárias às classificações anteriormente atribuídas, de acordo com as orientações da DREC.

Tudo bem. Foi a sua decisão. As pessoas não têm todas o mesmo grau de combatividade e de coragem para arrostar determinadas situações. Gostaria apenas de saber se a Comissão de Coordenação da Avaliação Docente (CCAD) que tem de validar os resultados da avaliação, terá concordado com tudo o que foi feito, sendo aquela CCAD composta apenas por elementos que tinham pertencido à CCAD que validou as minhas avaliações e os meus procedimentos.

Como tive oportunidade de afirmar no meu anterior texto sobre este assunto, não tenho a pretensão de ter feito tudo correctamente – até porque duvido que alguém o tenha feito neste país, a começar pela DGRHE que nos induziu em erro ao criar aquelas aplicações informáticas que não aceitavam números decimais e que permitiam que as pessoas que não tinham solicitado aulas assistidas tivessem a classificação de 8 ou de 9, mantendo a menção de Bom. (Para quem não domina a tabela das classificações, as classificações de 6 a 7,9 correspondem a Bom; as de 8 a 8,9 correspondem a MB e as de 9 e 10 correspondem a Excelente, sendo que só podem aceder ao MB e ao Exc. os professores com estatuto de avaliadores e os que solicitem aulas assistidas).

Ora houve muitos colegas que não quiseram pedir aulas assistidos e que sabiam, à partida, que se ficariam pela menção de Bom. Porém, não foi por isso que deixaram de desempenhar as suas tarefas extra-aulas, como por exemplo, desempenho de cargos, desenvolvimento de projectos, apoios a alunos e a encarregados de educação entre outras, de forma muito eficiente, pelo que não podia senão atribuir-lhes classificação superior a 7,9. E a aplicação do ME aceitou!!!

Por outro lado, houve professores que foram classificados de MB e de Exc. para os quais não havia quotas (só 20% do universo total de professores avaliados poderiam ter MB e 5% poderiam ter Exc.) que não puderam manter a menção mas apenas a classificação. Por exemplo, um avaliado com 9 para o qual não houvesse quota por força do determinado da lei, manteve a sua classificação numérica mas recebeu a menção não de Exc. mas de MB. E a aplicação do ME aceitou!!!

Agora vem a DREC dizer que estas notas têm de ser descidas para os valores correspondentes às menções. Não me parece justo, nem lógico, nem coisa nenhuma!

É muito diferente um professor chegar a uma escola nova levando na sua “bagagem” um Bom com classificação de 9 ou com a classificação de 7! Como é diferente chegar com um 9 que correspondeu apenas a MB por força das circunstâncias legislativas! Ou o que é que estamos a pretender esconder?!

O pior de tudo isto, para além das descidas nas notas que transtornam qualquer um, é que houve imensas escolas que usaram a mesma lógica que eu usei e que, como não tiveram quem reclamasse superiormente, não tiveram de proceder a estas alterações, continuando estes professores a ter 9 com a menção de Bom e assim sucessivamente.

É justo isto?! Não me parece. Ou então, porque é que a DREC não faz (ou não fez, em devido tempo) uma informação, ou um despacho, ou seja lá o que for a todas as escolas para que todas sigam a mesma linha? Ou mais: se assim é e eu fiz tantas ilegalidades (cadê os outros?!) porque não são (ou não foram em devido tempo...) estas orientações difundidas a nível nacional?




terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Orgulho Nacional



Na altura em que "cães de fila" - portugueses e não só! - arreganham os dentes por o FMI não ter vindo ainda dizer que somos uns tristes, vem  mais um português, desta vez no futebol,  mostrar da fibra de que somos feitos ao ganhar um prémio recém-criado pela FIFA. A José Mourinho, que, no ano passado, se sagrou campeão europeu, depois de ter ganho o Campeonato italiano e a Taça de Itália, foi ontem atribuída na gala da FIFA em Zurique,  a Bola de Ouro para o melhor treinador do mundo.

Já aqui deixei expressa a minha pouca simpatia pelo homem em si, mas apetece-me exclamar: YES!

Os ingleses é que sabem: já o tinham consagrado ao colocarem a sua imagem em cera no Museu da Madame Tussaud, em Londres.

Ó para ele aqui!




segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Da autoridade dos professores



(imagem retirada de Rio das Maçãs)


Ouvi um dia destes na televisão um médico que falava sobre educação - toda a gente manda palpites à educação; é quase como com o futebol... – repetindo aquela frase completamente gasta “É preciso devolver a autoridade aos professores!”

Quase se me arrepiam as unhas dos pés quando oiço dizer isto. Ninguém alguma vez retirou autoridade aos professores. As circunstâncias e a sociedade é que se alteraram completamente. Não me lembro de nenhum decreto-lei que tenha sido assinado por qualquer administração que nos dissesse que “de agora em diante os professores não podem ter este ou aquele comportamento para com os alunos”. As crianças é que começaram a ter de vir todas, quero dizer, com todo o tipo de educação para a escola o que, aos poucos, foi alterando a relação pedagógica professor-aluno também ela beliscada pela necessária massificação ao nível dos professores.

A educação dada pelos pais às crianças foi ganhando outros contornos pela abertura nas relações familiares, por influência da abertura do país depois do fechadismo obscurantista da nossa longa ditadura, por influência dos meios de comunicação, pela adesão cega, por parte de pais e de professores, a novas correntes educacionais, por influência (ai no que eu me vou meter!) dos psicólogos.

De um momento para o outro, as crianças vêem-se com todo o poder nas mãos e exercem-no! De um momento para o outro, elas quase passaram a ter só direitos e muito, mas mesmo muito poucas obrigações e deveres. Recordo sempre aquela anedota que se contava do homem que nunca tinha comido uma perna de galinha porque, quando era miúdo, a perna de galinha era sempre para o pai e agora, em adulto, a perna passara a ser sempre para o filho!

A falta de regras em casa – e assiste-se muito a esse fenómeno – leva a que as regras da escola e das aulas nada digam às crianças. E, perante isso, que pode o professor fazer? As crianças respondem aos professores e têm com estes os comportamentos que têm para com os pais. Tal como era há trinta ou quarenta anos atrás. A minha autoridade como professora foi sempre a mesma desde quando comecei a dar aulas em 70. Nunca, até ao final da minha carreira, me vi coarctada na minha autoridade por nenhuma ordem superior. Mas quando, nos anos 70/80, tinha trinta e tal alunos nas aulas, podem ter a certeza que estavam muito mais sossegados e atentos do que há meia dúzia de anos, quando tinha à volta de vinte. Eles agora não se calam, não se sentam, não estão atentos, não se interessam…

“Devolver a autoridade aos professores”?! Gostava que o senhor doutor médico e os outros críticos do(s) governo(s) me definissem “autoridade dos professores”…

Eduquem-se antes as crianças! Com regras. Com passagem de responsabilidade, com passagem de valores, com a assunção pelos pais do seu papel de pais.



domingo, 9 de janeiro de 2011

Netices...





A minha neta Elisa, que tem três anos e é a mais nova do grupo, teve uma repreensão no ATL onde fica depois de terminarem as actividades no Jardim-de-infância que frequenta, por ter dado uma bofetada num coleguinha... Nesse espaço as crianças  tomam a refeição do meio do dia e o lanche da tarde, são acompanhadas por monitoras nas suas brincadeiras e têm aulas de dança e de inglês.

Perante a informação da monitora sobre o seu comportamento e depois de a admoestar devidamente,  a mãe perguntou-lhe porque batera no colega. Ao que ela respondeu, acto contínuo:" - Olha, ele também me bateu e não me disse I'm sorry!..."